Publicado às 12h
Por Cristina Braga
Em 1935, um advogado de 25 anos que se apaixonou por um outro homem, abandonando a família para morar com ele; ou uma jovem de 28 anos casada e dona de casa, que tinha o “mau hábito” de ler – especialmente
sobre emancipação feminina – e desejava ser livre. Estas pessoas estão entre as 60 que foram internadas no “Sanatório Pinel” no período de 1929 a 1944 e escreveram 30 cartas em seus prontuários médicos – talvez nunca entregues a seus destinatários.
Durante os sete meses de reclusão, o jovem homossexual endereçou cartas ao pai, dizendo-se regenerado; à mãe, mostrando que tudo não passava de um mal-entendido; e outras ao namorado, jurando amor eterno. As
mensagens são objeto de estudo pelo linguista Antônio Ackel em sua dissertação de mestrado na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP. Ackel teve acesso aos documentos por meio do Arquivo Público do Estado de São Paulo. À época, pacientes eram internados por conta de comportamentos sociais inadequados.
O Sanatório Pinel foi fundado em 1929 pelo médico psiquiatra Antônio Carlos Pacheco e Silva, que também fazia parte do governo Vargas, marcado por um discurso ideológico eugenista. Pacheco e Silva considerava
que “as doenças mentais, a miscigenação das raças e tantos outros péssimos hábitos atrapalhavam a vida em sociedade e o progresso do País”, relata Ackel. “A grande maioria contém uma boa ortografia com todos os elementos textuais linguísticos; mais uma razão para se pensar sobre o comportamento e a doença. Será que as famílias desses internos desejavam a cura ou escondê-los da sociedade?”, reflete o estudioso, analisando as mensagens.
A dissertação de mestrado “Transcrição de cartas de pacientes do antigo Sanatório Pinel” será apresentada no primeiro semestre de 2019, na USP. O pesquisador contou com bolsa do Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico (CNPq) e dará continuidade à pesquisa na Universidade de Groningen, na Holanda.
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