Publicado às 9h55
G1 São Paulo
A Ouvidoria da Polícia do Estado de São Paulo afirmou que houve uso desnecessário da força na ação policial que aconteceu na noite de terça-feira (5) para dispersar foliões após um bloco de carnaval na Barra Funda, na Zona Oeste de São Paulo.
O G1 conseguiu com exclusividade um vídeo gravado por morador do bairro que mostra o momento em que os policiais usam spray de pimenta e bombas de gás lacrimogêneo contra poucas pessoas que estão na calçada de um bar na Rua João de Barros.
Um PM com escopeta de balas de borracha dispara duas vezes em linha reta, em direção a um casal de foliões. Pelo menos cinco pessoas ficaram feridas. Após a ação, o mesmo PM, que estava sem identificação, ameaçou uma das vítimas: “Não tenho cerimônia em quebrar cara de mulher”. Outra vítima ficou ferida na perna com estilhaços de bomba.
“A opinião da Ouvidoria é de que os policiais usaram força desnecessária para desbloquear uma rua que, aparentemente pelas imagens, não estava nem bloqueada”, afirmou Benedito Mariano, ouvidor das polícias de São Paulo.
Em nota, a Secretaria de Segurança Pública afirmou que um inquérito policial foi instaurado para investigar a conduta do policial que fez a ameaça e que ele já foi afastado do trabalho operacional. A pasta diz ainda que “a instituição não compactua com eventuais desvios de conduta de seus agentes”.
Nesta sexta-feira (8), a Ouvidoria das Polícias deve ouvir as vítimas da ação que aconteceu no Bloco Agora Vai para prosseguir na apuração. Também está marcada uma reunião de representantes dos blocos do carnaval de rua de São Paulo com a Defensoria Pública e o Núcleo de Cidadania e Direitos Humanos para discutir os episódios de ação autoritária da Polícia Militar.
Doria diz que ação foi ‘correta’
Na tarde desta quinta-feira (7), o governador de São Paulo João Doria afirmou que não havia assistido às imagens, mas que a ação da polícia foi “correta”.
“O que nós condenamos é o que esse grupo fez e as ameaças que promoveu. A polícia agiu de forma correta, pronta resposta. De forma correta e preventiva, sem violência, usando os instrumentos que o protocolo estabelece. O que errou foi na ameaça feita depois no posto policial, isso sim foi objeto de uma orientação minha e do secretário da Segurança Pública do estado de São Paulo General Campos no sentido de uma ação disciplinar que já foi feita”, disse
O governador afirmou ainda que os foliões promoveram arruaças e ameaçaram um dos policiais. “Os instrumentos foram esses, ninguém se feriu, não houve ninguém machucado. Bala de borracha é pronta resposta em caso de ameaça ou risco”, disse
Após a publicação da declaração, a assessoria de imprensa do Palácio dos Bandeirantes enviou uma nota ao G1 mudando o tom.
“Após ter acesso ao conteúdo das imagens, João Doria determinou apuração rigorosa para apontar eventuais excessos dos policiais; reforçou junto ao comando da Polícia Militar o pedido de afastamento imediato do policial que agrediu verbalmente uma moça e do acompanhamento de perto do caso por parte do secretário de Segurança Pública, General João Campos”, diz o texto.
Relato do caso
Segundo Paula Klein, uma das diretoras do Agora Vai, o bloco saiu às 15h e terminou às 19h, antes do horário previsto, por conta da forte chuva que atingiu a região. De acordo com ela, antes das 22h as vias já estavam liberadas e o som já tinha sido desligado. A abordagem ocorreu por volta das 22h30.
“A CET já tinha conversado com a gente falando que estava tudo certo, que estávamos dentro do horário. Às 22h já não tinha mais nada. Sobraram umas 15 pessoas dentro de um bar. Foi quando a polícia chegou mandando bala”, disse.
As balas de borracha atingiram o maestro do bloco, Lincoln Antonio, e sua namorada, Thaís Campos. Segundo Lincoln, pelo menos cinco pessoas ficaram feridas.
“Eu vi quando o policial mirou em mim. Dei uma escapada e a bala pegou na minha bunda. A Thaís foi atingida na altura da costela, direto na pele. Uma cantora também foi atingida por estilhaços da bomba. Outro conhecido também levou uma bala”, afirmou.
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