Publicado em 08/04/2020, às 10h15
Fonte: Folha de S.Paulo
Bastou um projetor e uma caixa de som portátil para que a empresária Simone Rodrigues, 44, trouxesse leveza para os dias de isolamento em um condomínio de Pirituba.Desde meados de março, ela vem fazendo projeções no prédio da frente ao que mora, no condomínio Projeto Bandeirantes.
Inicialmente, as ações contavam com clipes musicais para romper a falta de contato entre os vizinhos. Desde semana passada, ela passou a recolher mensagens e fotos de moradores do condomínio e projetá-las para que todos vissem.
Ela coloca o projetor de frente para seu quarto, onde encontrou o “telão” ideal: uma coluna sem janelas do bloco ao lado. Colocou um clipe de música e a reação na torre vizinha foi imediata. Uma criança começou a pular. “Eu comecei a chorar de ver aquilo”, relata.
A ideia não funcionou de cara. Primeiro, ela tentou da janela da sala, mas percebeu que ficava em frente a uma coluna de varandas do outro prédio. Depois, no chão da rua, mas a vizinha do andar de baixo reclamou.
“Interfonei para toda ala do meu apartamento, que é do lado que fica o som, e expliquei que a música duraria três minutos e 28 segundos e que eu só estava querendo fazer o bem”, conta.
Ela ressalta que recebeu várias reações de pessoas que estão sentindo as dificuldades desse período, como de uma senhora que vive sozinha. “Sou diabética, tenho problema cardíaco. Minha filha está tendo que empurrar comida para mim na porta”, relatou a idosa a Simone.
Vista aérea do Portal dos Bandeirantes: Reprodução: Facebook
“Chegou a hora de a gente tocar o coração duro das pessoas, porque elas estão insensíveis, e eu acho que é isso que ela [Simone] quis fazer”, defende a auxiliar de consultório Elizabeth Cristina Pires Vieira, 59.
Moradora de um prédio vizinho, ela mandou pelo grupo de WhatsApp fotos e mensagens que gostaria de ver na projeção.”Mandei um recado para minha irmã, que é médica e está na batalha atendendo em vários hospitais”, detalha. Ela também aproveitou para homenagear duas vizinhas com quem tem amizade. “Quando tudo passar, vamos comemorar”, dizia a mensagem.
Mensagem projetada nos edifícios do condomínio. Reprodução: Folha de S.Paulo
Simone, que iniciou as projeções, divide com o marido as responsabilidades sobre uma empresa de peças automotivas. Por viver com bronquite asmática, se encaixa no grupo de risco da Covid-19, e está trabalhando em casa desde meados de março.
O início desse processo causou angústia, principalmente por ter uma neta recém-nascida. “Da mesma forma que não estou podendo ver minha neta, minha mãe, minha filha, eu comecei a pensar em tudo o que eu poderia fazer para ajudar. Tem gente que está sozinha”
As projeções podem ser positivas durante o período de distanciamento social, medida incentivada para evitar o colapso no sistema de saúde durante a pandemia de coronavírus.
“Ações como essa fazem com que a gente volte a lembrar das pessoas com saudade, e não com tristeza; e que a gente comece a transformar o pânico em esperança”, afirma a psicóloga Suellen Cardoso, moradora do Grajaú, na zona sul de São Paulo.
Bem legal. Principalmente porque respeitou todos. Som rapido, mensagens tocantes .