Publicado às 9h50
Folha de SP
Ex-secretário da gestão João Doria (PSDB) e braço direito do prefeito, o advogado Cláudio Carvalho de Lima tornou-se sócio-diretor do escritório Braga Nascimento e Zilio, esse beneficiado por autorização da prefeitura para instalar bandeiras do Brasil pela cidade de São Paulo acompanhadas de placas publicitárias do escritório.
As autorizações ao escritório, dadas pela Secretaria de Prefeituras Regionais então sob o comando de Carvalho, desconsideraram órgãos de preservação da paisagem e do patrimônio do município e do estado, que logo notificaram a prefeitura.
Oficialmente, as bandeiras foram doadas e instaladas pelo EAB (Eu Amo o Brasil), instituto fundado pelo advogado Marcelo Nascimento Braga, presidente do escritório Braga Nascimento e Zilio, que sustenta o instituto.
As placas de divulgação das marcas do escritório foram retiradas após reportagem da Folha, em fevereiro, mostrar que elas infringiam a lei Cidade Limpa. As bandeiras, porém, continuam instaladas em diferentes pontos de destaque de São Paulo, como a avenida Brasil, a ponte Cidade Jardim e a ponte Imigrante Nordestino.
O Condephaat, órgão estadual de preservação do patrimônio, notificou a Prefeitura Regional de Pinheiros para que sejam dadas explicações imediatamente sobre as bandeiras da avenida Brasil. O órgão diz que a situação do local tombado precisa ser regularizada o mais rapidamente possível, sob pena de multa em caso de descumprimento.
Já o Conpresp, conselho municipal de preservação do patrimônio, solicita informações sobre as bandeiras instaladas na ponte das Bandeiras sem a autorização do órgão.
A CPPU (Comissão de Proteção à Paisagem Urbana) também enviou notificação, mas referente às placas do escritório de advocacia, que foi contemplada com a retirada delas da ponte Cidade Jardim.
Doria deixou a prefeitura no começo do mês para disputar a campanha para o governo do estado. Carvalho foi o primeiro a deixar a gestão para acompanhar o ex-prefeito, de quem é um dos principais conselheiros. O ex-secretário ajuda Doria em sua campanha.
Dono do escritório, Nascimento Braga já foi presidente do Lide China, braço de negócios internacionais do Grupo Lide, empresa fundada por Doria e conhecida por pedir contribuições de empresários para organizar palestras com políticos. Doria diz que passou o controle acionário da empresa para o filho.
O ex-prefeito tem investido na tentativa de aproximar a bandeira do Brasil de suas plataformas políticas. Em seu último discursocomo prefeito de São Paulo para os seus secretários, por exemplo, balançou uma bandeira do Brasil e disse que ela nunca será vermelha, em referência ao PT.
Além disso, passou vídeo de vitória do ex-piloto de F-1 Ayrton Senna, outro símbolo que tenta puxar para sua promoção política. Doria também costuma se fazer acompanhar do “tema da vitória” que era tocado pela TV Globo nas conquistas de Senna.
Carvalho e Braga também apreciam a simbologia: o primeiro é conselheiro do Instituto Ayrton Senna, e o escritório do segundo planeja intervenções na cidade em homenagem ao piloto (aos moldes das bandeiras).
Por outro lado, Braga nega qualquer vinculação das bandeiras a Doria. “É uma exaltação do meu país, da nossa bandeira. Não tenho filiação partidária nem pretensões políticas”.
Carvalho diz que o convite veio após sua saída da Secretaria de Prefeituras Regionais e que não há problemas em assumir o cargo logo depois de deixar a administração pública.
“As bandeiras foram aprovadas, estão regulares, foram uma doação de uma entidade, não do escritório, que defende o retorno do patriotismo ao Brasil. Mais de 90% das pessoas com que falei apoiam as bandeiras”, diz Carvalho, classificando a instalação das bandeiras pelo instituto como “maravilhosa” e dizendo que as placas publicitárias do escritório foram tiradas por sua determinação.
“Não tem problema [em ter virado sócio do escritório]. Qual é o problema? Sou sócio mesmo, trabalho no mercado há 30 anos, ajudei meu amigo prefeito João Doria, e voltei para a iniciativa privada (…) Não existe conflito de interesse algum. Tenho conduta ilibada. Não existe possibilidade de conflito de interesses porque estamos doando as bandeiras. E como sócio do escritório vou continuar incentivando as doações para quem quiser”, afirma Carvalho.
“É um absurdo falar em conflito de interesses. Posso fazer o que quiser da minha vida, ninguém vai me impedir, não devo nada para ninguém. Sobre o prazo que fiquei no setor público, está tudo lá: imposto de renda de quando entrei e de quando saí”, conclui.
Em nota, a associação EAB diz que “rechaça qualquer insinuação de conflito de interesse na iniciativa de valorização dos símbolos nacionais”. “A entidade reafirma que a doação das bandeiras do Brasil à cidade de São Paulo seguiu todos os trâmites legais, sem qualquer contrapartida da administração municipal.”
A associação esclarece que a ação é apartidária e busca resgatar o “amor à pátria”.
Também em nota, a prefeitura também refuta qualquer possível ato imoral. “A Prefeitura de São Paulo diz seguir as orientações de órgãos de patrimônio e esclarece que não houve benefício e tampouco conflito de interesse no recebimento das doações das bandeiras, que seguiu o mesmo processo de outras parcerias firmadas com a iniciativa privada.”
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