Publicado às 8h55
Folha de SP
Prestes a completar um ano de mandato, o prefeito de São Paulo Bruno Covas (PSDB) ausentou-se da cidade por 38 dias desde abril de 2018. Desde que entrou na prefeitura, inicialmente como vice-prefeito do tucano João Doria, em janeiro de 2017, esteve viajando por quase 100 dias.
Nesta segunda-feira (11), quando a cidade amanheceu debaixo d’água, Covas encontra-se fora de São Paulo, em licença não remunerada. A ausência foi atribuída a “motivos pessoais”. Até o momento, a prefeitura confirmou 12 mortes devido ao temporal.
A gestão Covas argumenta que apenas 15 dias foram em viagens pessoais e as demais, a serviço como prefeito, por exemplo, em busca de investimentos para a capital paulista.
Após a Prefeitura afirmar, pela manhã, que não havia planos para abreviar a viagem, por volta das 14h a Secretaria de Comunicação afirmou que Covas decidira abreviar o afastamento e voltar. Ele passou a receber duras críticas nas redes sociais por não estar na cidade no momento da tragédia. O tucano reassumirá o cargo nesta terça-feira (12).
Antes disso, o prefeito em exercício, o vereador Eduardo Tuma (PSDB), havia afirmado que Covas estava coordenando a situação na cidade durante viagem. “O Bruno está presente. É ele que comanda as operações. Ele fala comigo, com os secretários. Falou conosco de forma coletiva todos os momentos. Então a minha resposta é que ele está conosco”.
Desde que se tornou prefeito, Covas empreendeu viagens profissionais e pessoais. Em julho, por exemplo, participou de curso para líderes globais oferecido pela Fundação Bloomberg. Em outubro, foi ao Japão acompanhar um evento de automobilismo que trouxe para São Paulo. Em agosto, dezembro, janeiro e março, ausentou-se para os assuntos privados.
Covas está à frente do município há 339 dias. Ao todo, a gestão tucana tem 799 dias.
“Desde que assumiu a Prefeitura de São Paulo, em 7 de abril de 2018, o prefeito Bruno Covas esteve ausente por 15 dias em licença não remunerada para tratar de assuntos particulares”, afirma nota da prefeitura. “Em outras ocasiões, Covas esteve em viagens oficiais representando a Prefeitura e buscando recursos para São Paulo”, complementa o comunicado.
A nota cita como exemplo evento, em maio, em encontro da Frente Nacional de prefeitos, que a reportagem não contabilizou nesta reportagem. Também cita viagens internacionais “em eventos oficiais para buscar investimentos à cidade, como em Nova York, em maio, Londres, em junho e Las Vegas, em novembro”, que foram contabilizadas.
Para o vereador Antonio Donato (PT), as ausências do prefeito são por motivos “prosaicos”.
“São viagens sem propósito, para cursos e eventos menores, e que não se justificam. Não me lembro de outro prefeito que tenha viajado tanto e para eventos desse tipo. O Doria, por exemplo, viajava para fazer campanha política. O Bruno parece que viaja apenas pelo prazer de viajar”, diz.
Desde o início da gestão, Covas ausentou-se sete vezes por “motivos pessoais”. Em julho de 2017, ainda no início do mandato, ficou fora da cadeira de vice-prefeito por 13 dias, quando fez viagem com amigos à Croácia.
À época, repercutiram negativamente as fotos de Covas nas praias do Leste Europeu. Em sua companhia estava Gustavo Garcia Pires, que posteriormente ele nomearia para a função de secretário executivo. O prefeito também daria um cargo para a mãe de Gustavo na administração municipal. O secretário foi autorizado por Covas a tirar licença pelo mesmo período que ele agora em março.
Ao todo, desde 2017, Covas esteve fora da cidade por 42 dias para resolver “assuntos pessoais”, sempre com prejuízo de seus vencimentos –ou seja, sem receber salários.
Procurada pela Folha, a prefeitura não respondeu até a publicação desta reportagem.
Um prefeito fútil, para uma gestão fútil, que leva a cidade para uma perspectiva fútil. A população permanece calada, aceitando o açoite de cortes na saúde, educação e zeladoria e transportes. Não me admira se conseguir reeleição.