Publicado às 9h
Folha de SP
A próxima Bienal de São Paulo já tem nome: “Afinidades Afetivas”. Mas Gabriel Pérez-Barreiro, curador da 33ª edição do evento, ressalva: “É só o título, não é o tema”.
Em contraponto com as últimas edições, Pérez-Barreiro abandonou a ideia de uma temática central a reunir obras e debates nos cerca de três meses de exposição.
“Afinidades Afetivas” deriva de Johann Wolfgang von Goethe (1749-1832) e Mário Pedrosa (1900-1981).
O escritor alemão escreveu “Afinidades Eletivas”, em que um casal recebe dois visitantes que despertam atração sexual e amor proibido, enquanto o escritor e jornalista brasileiro elaborou sobre “a natureza afetiva da forma na obra de arte” (1949).
Além de abolir o eixo temático, o curador quer reduzir a quantidade de trabalhos expostos: “Quanto mais aumenta o número de obras, mais decai o nível da experiência”.
Para ele, muitas obras em um prédio remetem a uma feira de arte “cheia de cubículos”. Diz Pérez-Barreiro: “Não tem como ver isso com o mínimo de prazer e atenção”.
Com orçamento de R$ 26 milhões, a 33ª Bienal vai dividir a curadoria com artistas —um para cada um dos sete núcleos expositivos.
Entre os convidados estão o uruguaio Alejandro Cesarco, cujo trabalho se concentra em temas ligados a tradução e imagem, e a paulistana Sofia Borges, que prepara pesquisa sobre tragédias.
Já Waltercio Caldas fará reflexão sobre a forma e a abstração. Em entrevista nesta terça (31), o artista afirmou que a média de tempo de um espectador diante de obras na Bienal é de 15 segundos. “Quero mudar esse número.”
ONDA CONSERVADORA
A mostra está prevista para a época das eleições que decidirão o próximo presidente do Brasil.
“Não acho que seja responsabilidade da Bienal se manifestar sobre a eleição brasileira”, diz Pérez-Barreiro.
Radicado em Nova York, o espanhol diz também que seria “grande pretensão minha, estrangeiro, achar que é o meu papel dizer aos brasileiros o que têm de fazer”.
Diante de ataques de conservadores a obras e artistas, como na exposição “Queermuseu”, cancelada em Porto Alegre (RS) após acusações de incentivo à pedofilia, Pérez-Barreiro reconhece que o momento é perigoso.
“É preciso defender a arte”, diz. “Se uma obra for vista como ofensiva, nosso compromisso é com o artista”.
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