Publicado às 9h20
Folha de SP
Em sua primeira edição após a onda das acusações de assédio em Hollywood, o Oscar teve cerimônia de sua 90ª edição marcada por acenos às campanhas “MeToo” e “Time’s Up”, contra abusos sexuais e pró-representatividade. Já nas premiações, foi uma noite de poucas surpresas.
“A Forma da Água”, trama sobre uma faxineira muda que se afeiçoa a um monstro aquático, acabou se provando o grande vencedor, como esperado, levando quatro prêmios: melhor filme, direção, trilha sonora e direção de arte. Ao subir no palco, o diretor mexicano Guillermo del Toro lembrou que é um imigrante no país e citou a trupe de personagens fora do padrão de seu filme.
A cerimônia ocorreu nesse domingo (4), em Los Angeles.
Nas categorias de atuação, os mais cotados levaram as estatuetas. Gary Oldman venceu seu primeiro Oscar por sua performance, sob pesada maquiagem, de Churchill em “O Destino de uma Nação”.
Frances McDormand faturou seu segundo Oscar por viver a mãe enlutada e vingativa de “Três Anúncios para um Crime”. O filme também rendeu a Sam Rockwell o prêmio de ator coadjuvante por seu policial racista que se redime.
McDormand aproveitou o palco para pedir que todas as mulheres indicadas ficassem de pé: “Vamos lutar para sermos roteiristas da inclusão.”
Como atriz coadjuvante também venceu a favorita, Allison Janney, que faz a mãe megera da patinadora Tonya em “Eu, Tonya”.
“Me Chame pelo Seu Nome”, coproduzido pelo brasileiro Rodrigo Teixeira, levou a estatueta de roteiro adaptado, fazendo o roteirista James Ivory, 89, se tornar o vencedor do Oscar mais velho da história. Já “Corra!” ficou com melhor roteiro original.
Também não foram surpreendentes as categorias técnicas. A Forma da Água, que recria o início dos anos 1960, ganhou em direção de arte. “O Destino de uma Nação” levou em maquiagem. Já “Trama Fantasma”, ambientado no universo da alta-costura, foi reconhecido por figurino.
Produção da gigante Pixar, “Viva: A Vida É Uma Festa” levou como melhor animação, tirando a estatueta do brasileiro Carlos Saldanha e seu “O Touro Ferdinando”. Em seu discurso, o diretor Lee Unkrich fez uma ode ao México, onde a trama se passa, e afirmou que dedicava ao prêmio às crianças falantes de todos idiomas que enfim podiam se ver representadas.
“Viva” também ganhou o prêmio de melhor canção.
O Chile levou o Oscar de filme estrangeiro com “Uma Mulher Fantástica”, de Sebastián Lelio, história sobre uma transexual (Daniela Vega) que se bate com a família do namorado morto.
Na categoria de documentário, “Ícaro”, de Bryan Fogel, desbancou Agnès Varda, 89, e “Visages Villages”. O vencedor escava bastidores do doping no mundo esportivo.
O filme de guerra Dunkirk faturou três estatuetas: edição de som, mixagem de som e montagem, coroando o empenho do diretor Christopher Nolan em criar experiência que ele quis ver vivida no cinema, e não no streaming.
Já a ficção “Blade Runner: 2049” levou dois prêmios: direção de fotografia e efeitos visuais, por sua recriação de uma Los Angeles futurista.
Num dos momentos mais emblemáticos, as atrizes Ashley Judd, Salma Hayek e Annabella Sciorra (as três assediadas pelo produtor Harvey Weinstein) subiram ao palco para apresentar um vídeo em que pessoas de várias minorias falaram sobre representatividade nos filmes.
“Saudamos os espíritos que não permitiram que seu gênero, raça ou etnia os impedisse de contar suas histórias”, disse Hayek. Vários dos apresentadores das categorias eram membros de alguma minoria: mulheres, negros, indígenas, transexuais…
Mesmo o apresentador Jimmy Kimmel foi contido ao fazer as piadas. Mas alfinetou Weinstein logo em seu monólogo inicial, mencionando a expulsão dele da Academia. “Merecia mais”, afirmou.
Ainda sobre assédios sexuais, Kimmel disse que a estatueta do Oscar era o “homem mais respeitado em Hollywood, pois tem as mãos onde se pode ver e não possui pênis”.
O apresentador também alfinetou Donald Trump, ao dizer que o presidente aprovaria três quartos do filme de temática racial “Corra!”, ou seja, tudo exceto a parte da morte dos personagens brancos.
Kimmel também brincou com a gafe do ano passado e chamou Warren Beatty e Faye Dunaway para apresentar o prêmio principal novamente.
VEJA OS INDICADOS E OS VENCEDORES (EM NEGRITO)
Melhor filme
“Corra!”
“O Destino de uma Nação”
“Dunkirk”
“Me Chame pelo Seu Nome”
“A Forma da Água”
“Lady Bird – É Hora de Voar”
“Trama Fantasma”
“The Post – A Guerra Secreta”
“Três Anúncios para um Crime”
Melhor diretor
Christopher Nolan (“Dunkirk”)
Guillermo del Toro (“A Forma da Água”)
Jordan Peele (“Corra!”)
Paul Thomas Anderson (“Trama Fantasma”)
Greta Gerwig (“Lady Bird – É Hora de Voar”)
Melhor ator
Daniel Day-Lewis (“Trama Fantasma”)
Daniel Kaluuya (“Corra!”)
Denzel Washington (“Roman J. Israel, Esq.”)
Gary Oldman (“O Destino de uma Nação”)
Timothée Chalamet (“Me Chame pelo Seu Nome”)
Melhor atriz
Frances McDormand (“Três Anúncios para um Crime”)
Margot Robbie (“Eu, Tonya”)
Meryl Streep (“The Post: A Guerra Secreta”)
Saoirse Ronan (“Lady Bird – É Hora de Voar”)
Sally Hawkins (“A Forma da Água”)
Melhor roteiro original
“Corra!”
“Doentes de Amor”
“A Forma da Água”
“Lady Bird – É Hora de Voar”
“Três Anúncios para um Crime”
Melhor roteiro adaptado
“Me Chame pelo Seu Nome”
“O Artista do Desastre”
“A Grande Jogada”
“Logan”
“Mudbound: Lágrimas sobre o Mississippi”
Melhor ator coadjuvante
Sam Rockwell (“Três Anúncios para um Crime”)
Willem Dafoe (“Projeto Flórida”)
Woody Harrelson (“Três Anúncios para um Crime”)
Richard Jenkins (“A Forma da Água”)
Christopher Plummer (“Todo o Dinheiro do Mundo”)
Melhor atriz coadjuvante
Mary J. Blige “Mudbound: Lágrimas sobre o Mississippi”)
Allison Janney (“Eu, Tonya”)
Lesley Manville (“Trama Fantasma”)
Laurie Metcalf (“Lady Bird – É Hora de Voar”)
Octavia Spencer (“A Forma da Água”)
Melhor fotografia
“Blade Runner 2049”
“O Destino de uma Nação”
“Dunkirk”
“Mudbound: Lágrima sobre o Mississippi”
“A Forma da Água”
Melhor direção de arte
A Bela e a Ferra
“Blade Runner 2049”
“Dunkirk”
“O Destino de uma Nação”
“A Forma da Água”
Melhor figurino
“A Bela e a Fera”
“O Destino de uma Nação”
“Trama Fantasma”
“Victoria & Abdul”
“A Forma da Água”
Melhor montagem
“Dunkirk”
“Em Ritmo de Fuga”
“Eu, Tonya”
“A Forma da Água”
“Três Anúncios para um Crime”
Melhor trilha sonora
Hans Zimmer, de “Dunkirk”
Alexandre Desplat, de “A Forma da Água”
John Williams, de “Star Wars: Os Últimos Jedi”
Jonny Greenwood, de “Trama Fantasma”
Carter Burwell, de “Três Anúncios para um Crime”
Melhor canção
“Mighty River”, de “Mudbound: Lágrimas sobre o Mississippi”
“Remember Me”, de “Viva – A Vida É uma Festa”
“Stand Up for Something”, de “Marshall”
“The Mystery of Love”, de “Me Chame pelo Seu Nome”
“This is Me”, de “O Rei do Show”
Melhor animação
“O Poderoso Chefinho”
“Com Amor, Van Gogh”
“O Touro Ferdinando”
“The Breadwinner”
“Viva – A Vida É uma Festa”
Melhor filme estrangeiro
“Corpo e Alma”, de Ildikó Enyedi (Hungria)
“Sem amor”, de Andrey Zvyagintsev (Rússia)
“O Insulto”, de Ziad Doueiri (Líbano)
“Uma Mulher Fantástica”, de Sebastián Lelio (Chile)
“The Square – A Arte da Discórdia”, de Ruben Östlund (Suécia)
Melhor mixagem de som
“Em Ritmo de Fuga”
“Blade Runner 2049”
“Dunkirk”
“A Forma da Água”
“Star Wars: Os Últimos Jedi”
Melhor edição de som
“Em Ritmo de Fuga”
“Blade Runner 2049”
“Dunkirk”
“A Forma da Água”
“Star Wars: Os Últimos Jedi”
Melhores efeitos visuais
“Blade Runner 2049”
“Guardiões da Galáxia – Vol. 2”
“Kong – A Ilha da Caveira”
“Planeta dos Macacos – A Guerra”
“Star Wars: Os Últimos Jedi”
Melhor maquiagem
“O Destino de uma Nação”
“Extraordinário”
“Victoria & Abdul”
Melhor documentário
“Abacus: Small Enough to Jail”
“Ícaro”
“Last Man in Aleppo”
“Strong Island”
“Visages, Villages”
Melhor curta-metragem
“DeKalb Elementary”
“My Nephew Emmett”
“The Silent Child”
“The Eleven O’Clock”
“Waty Wote/All of Us”
Melhor curta de animação
“Dear Basketball”
“Lou”
“Negative Space”
“Garden Party”
“Revolting Rhymes”
Melhor curta documentário
“Heroin(e)”
“Edith + Eddie”
“Heaven is a Traffic Jam on the 405”
“Knife Skills”
“Traffic Stop”
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