Publicado às 13h15
Por Gabriel Cabral
A Folha Noroeste encaminhou na terceira semana de julho três reclamações de mães de crianças autistas para a Secretaria Estadual de Saúde. As denúncias são de mulheres que aguardam fila de atendimento especializado para crianças autistas e, também, daquelas que seus filhos já são atendidos pelo Hospital Psiquiátrico Pinel. O assunto das reclamações, no caso, é que o governo não renovou o contrato com a equipe atual que realiza o serviço. As mães aprovam o atendimento e relatam o avanço que seus filhos apresentaram com o tratamento. Segundo elas, o Estado quer trocar o serviço e impor um outro que elas já conhecem e que não tem qualidade. A secretaria estadual entrou em contato com a Folha Noroeste, pediu mais informações sobre um dos casos das leitoras, mas ignorou e não respondeu as demandas até o fechamento desta edição do jornal. A Folha Noroeste e as mães das crianças autistas atendidas no espaço aguardam posicionamento do órgão de saúde. Leia as reclamações das leitoras:
Lista de espera e cortes no Hospital Pinel
Referente à matéria dos 90 anos do Pinel, peço a gentileza de averiguarem sobre a troca da equipe atual por corte de verba. Infelizmente, apesar da obra que fizeram, apenas 120 crianças estão sendo atendidas e outras 60 estão na fila. Minha filha está há 1 ano e 8 meses aguardando ser chamada. Também circula na internet uns documentos pedindo assinaturas para a continuidade dos atendimentos pela equipe atual, pois o contrato foi até o final de março e até agora não houve renovação.
Eliana Moreira
Manobra para implantação de serviço inferior
Sou mãe de autista e meu filho faz tratamento no AMA (Associação de Amigos do Autista), dentro do Hospital Felipe Pinel. Estamos enfrentando transtornos com a renovação do contrato da AMA com o hospital. Apesar de ter sido feito o chamamento público e a AMA ser a única instituição interessada, colocaram empecilho referente ao valor do contrato. Nossos filhos correm o risco de ficar sem atendimento e, na nossa concepção, é por manobra da direção do hospital com a Secretaria de Saúde e o Governo do Estado para que a AMA abra mão do serviço e, assim, implantarem o CER (Centro Especializado de Reabilitação), que nada mais é do que um CAPS (Centro de Atenção Psicossocial) mascarado, um atendimento que foge completamente do modelo de atendimento oferecido pela AMA e que não supre a necessidade dos nossos filhos.
Mirian Silva
Não nos curvaremos
No anfiteatro do Hospital Pinel, aconteceu o chamamento público para continuidade do tratamento dos autistas. A AMA foi a única instituição a entrar na licitação, porém, agora encontraram um novo empecilho: o valor. O Estado já foi condenado pela Ação Civil Pública a prestar atendimento especializado às pessoas com autismo e, mesmo assim, eles insistem em não fazer valer esse direito. Como esperam oferecer um atendimento digno, adequado e de qualidade com uma verba de fome? Nossos filhos tem o direito garantido. Esse governo desrespeitoso quer nos tirar isso, nos jogar nesses CAPS de m****, que não tem qualificação nenhuma. Não aceitaremos isso. Desrespeito é o que houve hoje no chamamento público no Hospital Pinel. Nada resolvido. Apenas mais sofrimento e instabilidade. Os pais que estiveram na reunião de tentativa de negociação, só assistiram o que os “profissionais” faziam, mal conseguiam ouvir o teor da negociação. E no final, mais um mês de espera, porque a proposta da AMA é de valor absurdo para eles. Isso me revolta de uma forma tremenda. Para eles nossos filhos não são dignos de um atendimento de qualidade? O chamamento foi feito dentro das conformidades, toda documentação em ordem, e agora fazem essa palhaçada? Como a instituição vai manter um padrão de qualidade no atendimento se eles querem reduzir à migalhas a verba? A Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo tem como obrigação prestar atendimento adequado aos nossos filhos. O Governo do Estado de São Paulo também tem essa obrigação e estamos amparados na Ação Civil Pública. Nós não vamos abaixar a cabeça. Em fevereiro de 2018, a senadora Mara Gabrilli, em companhia da dra. Keila Franchin, diretora do hospital, visitava as instalações do novo prédio localizado no Hospital Pinel, que abrigaria a AMA (antigo CREAPP). Assim, as crianças ganhariam uma estrutura linda, espaçosa, excelente para o tratamento. O prédio conta com muitas salas, pátio, ginásio de esportes, academia e piscina (esses dois nunca usados). Nele as crianças logo passariam a receber toda a qualidade terapêutica da AMA e serviços como psiquiatra e dentista oferecidos pelo hospital. Sim, parecia tudo maravilhoso, a mudança foi feita, até começarmos a nos deparar com um monte de “boicotes” feitos pela diretoria do hospital. Começaram cortando das crianças a utilização do refeitório, que era arejado, espaçoso, adequado para tal, colocando nossas crianças em salas apertadas, abafadas; depois tiraram a sala das mães que era grande, abrigava confortavelmente a nós, nos jogaram numa salinha pequena, lá no fundo do hospital, abafada, que não cabe nem metade das mães, onde somos devoradas por pernilongos; depois barraram a entrada dos pais com carros até a porta do prédio da AMA; e agora implicam até onde os pais estacionam. Isso tudo com ordens da direção do hospital. Agora chego no ponto principal: andei parando para pensar em tudo o que estamos passando nesse momento, com esse problema de renovação do contrato com a AMA, não aceitando a proposta da instituição pelo valor pedido, mesma estando com todas as documentações ok, e estando tudo dentro do exigido no edital do chamamento público. Será que não seria manobra do hospital, com a Secretaria de Saúde e o governo do Estado para fazer a AMA desistir da prestação do atendimento, para assim instalarem o CER? Afinal, na visita da senadora, foi dito que as novas instalações abrigariam o CER, para tratamento de autistas e deficientes visuais. Um tratamento como o da AMA dá muito gasto, né? Qual a intenção? Retirar um tratamento de excelência especializado, para implantar um modelo lixo de CAPS? Um prédio daquele tamanho para abrigar apenas 120 autistas, separados em turnos, não deve ser rentável né? Autista não dá mídia? O hospital tem uma estrutura enorme, podendo oferecer o tratamento para os deficientes visuais e os autistas, sem acabar com o modelo de tratamento que temos recebido. Repito, o tratamento adequado aos autistas é direito dos nossos filhos. Não nos curvaremos a esse governo porco e omisso.
Ana Silva de Oliveira
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