Publicado em 13/02, às 11h30
Por Priscila Perez
“Não vamos mais deixar nenhuma árvore ser morta. Chega de violência contra a natureza”, disse Ray Paraí Poty, um dos representantes da comunidade indígena do Jaraguá, vizinha ao terreno da Tenda, onda a construtora pretende erguer cinco torres de moradias populares.
Acampados no local desde o dia 30 de janeiro, os guaranis querem impedir que mais árvores nativas venham ao chão – cerca de quatro mil – pela ação da construtora, que estava autorizada a suprimir apenas 528 exemplares arbóreos, com o replantio de 549 mudas e a doação de outras 1.099 ao município como contrapartida.
Porém, com a iminência da ação de reintegração de posse ser cumprida pela Polícia Militar, os índios sabem que logo mais serão obrigados a abandonar seu posto no terreno, onde fazem uma espécie de vigília contra o desmatamento. Por isso, a comunidade indígena defende uma solução mais definitiva para a região contra o desmatamento: a criação do Parque Ecológico YARY TY (CEYTY) e Memorial da Cultura Guarani. Na internet, há um abaixo-assinado em defesa da proposta, com 1.636 assinaturas. “É o que se espera da Prefeitura de São Paulo para compensar o crime socioambiental cometido pela TENDA com o desrespeito ao povo Guarani M’bya. Lembramos que o prefeito Bruno Covas prometeu um terreno ao povo guarani do Jaraguá para a criação de um Memorial para a preservação da sua cultura”, diz a publicação. O futuro centro seria construído na Rua Comendador José de Matos, 139.
Clique aqui para conferir a petição.
Reintegração de posse
Representantes da empresa, das aldeias e do 49º Batalhão da Polícia Militar participaram de uma reunião na última quarta-feira, 12 de fevereiro, para discutir a ordem de reintegração de posse. Os índios vão decidir se deixam voluntariamente o local até a próxima sexta-feira, 14, ou permanecem em vigília. A PM, por sua vez, descarta o uso da violência durante a desocupação, caso venha a ocorrer.
Ações em âmbito federal
O vereador Gilberto Natalini (PV) entrou com duas representações junto aos Ministérios Públicos Federal e Estadual com o objetivo de garantir a integridade física dos índios e impedir que mais árvores nativas sejam derrubadas. Nos documentos, o parlamentar solicita que o poder público apure os fatos, tome as providências necessárias e interrompa o empreendimento no Jaraguá. Natalini questiona o fato do terreno ser classificado como ZEIS (Zona Especial de Interesse Social) estando ele inserido numa ZEPAM (Zona Especial de Proteção Ambiental). A área, inclusive, é considerada uma Reserva de Biosfera (instrumento de preservação que incentiva uma gestão integrada e sustentável dos recursos naturais). Por conta disso, o aval da Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente é colocado em xeque. O empreendimento, inclusive, pode comprometer o Córrego das Lavras, “curso d’água disponível na superfície e que também está sob a ameaça de ser assoreado por não ter sido objeto de qualquer proteção na referida licença”, relata o vereador. Além das questões ambientais, foi criticada a falta de comunicação entre a Tenda e os índios ao longo do processo. “A população indígena não foi ouvida e nem mesmo consultada acerca do empreendimento, com sensível impacto ambiental, mediante a prática de desmatamento.”
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