Publicado às 11h
Folha de SP
A febre amarela deixou de ser uma doença que aparece em surtos periódicos e veio para ficar, avalia o coordenador de doenças da Secretaria Estadual da Saúde de São Paulo, Marcos Boulos.
Historicamente, o vírus ressurgia com mais força em picos com um intervalo de cinco a oito anos entre um e outro.
Os pacientes eram infectados principalmente, nas regiões Norte e Centro-Oeste do país.
Desde o ano 2000, porém, a doença avança em direção ao litoral, até ser detectada, em 2017, em áreas de mata da capital paulista.
Esse fator levou o coordenador de Doenças da secretaria estadual paulista a avaliar que a doença veio para ficar. Segundo ele, provavelmente os picos continuarão a ser no verão, mas haverá registros em outras épocas do ano.
Diante do atual cenário, o estado decidiu vacinar toda a população. Segundo o secretário David Uip, o prazo ainda será definido.
Após avançar pelo norte da região metropolitana, a doença já chegou ao litoral paulista, com um caso humano em Itanhaém, e ao Vale do Ribeira, com um macaco infectado no município de Pedro de Toledo.
Para isso, porém, será preciso driblar a procura abaixo da esperada pela imunização. De acordo com boletim divulgado na última sexta-feira (2) pela secretaria, a atual campanha, que já foi prorrogada, vacinou 50,3% do público-alvo.
Na cidade de São Paulo, que está na segunda fase da campanha de vacinação, dividida por regiões, o índice está em 62%.
Ao todo, foram registrados 286 casos autóctones (contraídos no local) de febre amarela no estado de SP desde 2017, sendo que 102 resultaram em morte. As cidades com maior número de casos ainda são Mairiporã (133 casos e 39 óbitos) e Atibaia (49 casos e 14 óbitos).
Na capital paulista, o número de casos da doença também cresceu, segundo balanço divulgado na sexta pela Secretaria Municipal de Saúde. São mais três casos, sendo que um evoluiu a óbito. Assim, a cidade de São Paulo contabiliza oito casos e quatro mortes provocadas pela febre amarela.
A expectativa é que a quarta e última etapa da atual mobilização seja concluída em maio, e, a partir de junho, a estratégia deve mudar. Serão pequenos lotes de vacina em todas as unidades de saúde, e não um quantitativo maior concentrado em determinadas regiões, mediante distribuição de senhas.
REAÇÕES À VACINA
O médico Éder Gatti, do Centro de Vigilância Epidemiológica, apresentou nesta segunda, durante simpósio sobre febre amarela, os dados de efeitos adversos de vacinação.
Os mais comuns foram os casos de meningite e meningoencefaliteapós a vacinação. Foram 68 neste ano no estado, em um total de quase 6 milhões de doses aplicadas.
A maioria dos pacientes se recuperou em alguns dias, disse Gatti.
Já os casos de doença viscerotrópica aguda, que é uma espécie de febre amarela acusada pela vacina, foram três em 2017 –os registros de 2018 ainda estão sob investigação–, o que dá uma incidência de 1 em cada 970 mil doses, índice já previsto na literatura médica.
Considerando- se tanto esses índices de problemas colaterais como a circulação do vírus, a recomendação é que todo mundo em área de recomendação de vacina seja imunizado, a menos que tenha alguma contraindicação, como ter menos de nove meses de idade ou estar imunossuprimido devido a algum tratamento. “Muito mais gente teria morrido se não tivesse sido vacinada”, disse Gatti.
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