SAÚDE

SP muda estratégia de combate à febre amarela e tenta se adiantar ao avanço do vírus

Traçado de 'corredores ecológicos' mostra avanço do vírus nas cidades paulistas

Publicado às 9h50

G1 São Paulo

Um estudo inédito fez mudar a estratégia de vacinação contra a febre amarela no estado de São Paulo. Segundo a Secretaria Estadual de Saúde, o mapeamento de “corredores ecológicos” permitiu identificar o caminho do avanço do vírus pelas cidades paulistas e priorizar as áreas de imunização.

O traçado foi feito com base nos macacos encontrados mortos pela doença – ocorrência chamada de epizootia –, na vegetação existente no estado, e nas regiões isotérmicas, ou seja, nem muito quentes, nem muito frias, já que o mosquito não sobrevive em temperaturas extremas. Os mosquitos transmissores, o haemagogus e o sabethes, são silvestres e vivem apenas em áreas de mata.

O estudo foi feito por pesquisadores da Secretaria de Estado da Saúde. A diretora de imunização Helena Sato, que está nesta área no poder público há mais de 30 anos, contou que na última vez que o estado registrou casos silvestres de febre amarela em humanos, em 2009, em Botucatu, o protocolo regente determinava a vacinação integral do município afetado e das cidades do entorno.

“Com a incorporação dessa nova tecnologia, ou seja, com a construção dos corredores ecológicos, foi possível priorizar a vacinação das pessoas que estavam realmente na área de risco”, disse Sato.

Tanto o traçado dos corredores quanto o uso da estratégia de tentar se antecipar à chegada do vírus foram feitos a partir da contaminação nas cidades de Monte Alegre do Sul e Amparo, na região de Campinas, em abril de 2017.

A diretora conta que, se a estratégia antiga estivesse sendo usada, quando o vírus chegou na região de Campinas, os mais de três milhões de moradores da região metropolitana teriam que ser vacinados. “Com a lógica dos corredores ecológicos nós vacinamos 50% dessa população”, disse a diretora.

De acordo com os pesquisadores, com a velocidade que o vírus avançou, não haveria estrutura para vacinar na íntegra todos os municípios que iam sendo afetados. Com o estudo, segundo eles, foi possível otimizar as doses de vacina e determinar a escolha das 54 cidades da campanha de vacinação.

De acordo com os pesquisadores, foi possível prever três meses antes que a doença chegaria em Mairiporã, região metropolitana de São Paulo, ao norte da capital. Com isso, a campanha de imunização começou em agosto de 2017 e, em dezembro, quando o vírus chegou, 80% da população estava vacinada.

Mairiporã é a cidade com mais mortes por febre amarela no estado, 28 do total de 61, desde janeiro de 2017, segundo o último boletim epidemiológico divulgado na sexta-feira (2).

Para os especialistas, os casos foram dos 20% que não se vacinaram e de pessoas de fora da cidade. “Se essa estratégia não tivesse sido feita, o número de casos seria cinco vezes maior”, defende o pesquisador científico da Superintendência de Controle de Endemias (Sucen) Adriano Pinter.

Doença avançou quase 3 km por dia no estado

Além de determinar as rotas do avanço da doença, foi possível também determinar a velocidade com que o vírus percorre esses caminhos.

Historicamente, o vírus parte da Amazônia e avança em direção ao Sul em movimento de ondas epidemiológicas. Para se ter uma ideia, há cerca de oito anos, o vírus saiu da região amazônica em direção ao estado paulista, mas sem gerar grande alarde.

Em abril de 2016, o estado registrou uma entrada do vírus no estado, por São José do Rio Preto. Em outubro de 2016, uma segunda entrada de febre amarela silvestre, desta vez por Ribeirão Preto. Nestas duas chegadas, o vírus avançou a uma velocidade de 0,9 km por dia.

Em uma terceira entrada, em janeiro de 2017, a atual onda de avanço da doença, o vírus entrou por Poços de Caldas e chegou à região metropolitana. Neste caso, o vírus avançou na velocidade de 2,7 km por dia, o triplo das anteriores.

Para este avanço rápido e a chegada inesperada na região metropolitana de São Paulo, os pesquisadores trabalham com duas hipóteses. Uma são os invernos quentes dos últimos anos, que podem ter anulado o período de hibernação do vírus, que ocorre durante a estação fria. Outra é o crescimento de 16% de reflorestamento no estado nos últimos 10 anos, o que pode ter interligado regiões de mata.

Caminho para o litoral paulista

Pelos cálculos do governo, a doença deve seguir para o litoral paulista, avançando pelo entorno da Grande São Paulo.

O mosquito se desloca com mais facilidade em áreas desmatadas, acompanhando a borda de regiões de mata, como estradas, ferrovias e linhas de transmissão.

Com base nesse comportamento do mosquito, a Secretaria de Saúde estabeleceu áreas prioritárias para a vigilância, que acreditam que seja a porta de entrada do vírus. São elas: Caraguatatuba, pela rodovia dos Tamoios e também pela passagem de gasoduto; Bertioga, pela rodovia Mogi-Bertioga; Cubatão, pela rodovia Anchieta; e Itanhaém, pelas linhas de transmissão e por uma rodovia que chega à cidade.

Diferente do interior do estado, a região de mata do litoral, a Mata Atlântica, é extremamente densa, o que dificulta o uso do macaco como indicador da presença do vírus, já que há uma dificuldade maior dele ser encontrado.

Como a ideia do estado é se antecipar à doença, a campanha vacinação no litoral começou no dia 25 de janeiro.

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