Sócios e integrantes de uma entidade que atuou em projetos de urbanismo no centro, a Associação Trabalhar, eles propuseram angariar recursos para cuidar da fachada, instalar câmeras de segurança e melhorar a internet.
Aprovaram no fim de 2018 um projeto para financiamento pela LeiRouanet e, em alguns meses, angariaram R$ 75 mil de 70 ex-alunos da turma formada em 2004. O pai de Pedro, o atuário aposentado Francisco Pereira de Souza, contribuiu com R$ 20 mil. Um cliente, Tiago Pessôa, diretor do banco Morgan Stanley, aportou mais R$ 50 mil.
Ao menos R$ 85 mil ficarão por conta de Pedro, Kleber e seus dois sócios no escritório. Na tramitação da Lei Rouanet, a dupla diz ter encontrado um labirinto burocrático, com exigências não previstas e turvas. Isso não impediu, porém, o início dos trabalhos na fachada. Com custo maior, a melhoria da estrutura de internet vai esperar, mas ainda é possível custear as câmeras.
Para fechar a conta, eles correm para obter até o próximo dia 21 mais R$ 100 mil (interessados devem escrever para sanfran@trabalhar.org.br).
Ambos dizem ver o trabalho pela faculdade como uma retribuição necessária. “É um sentimento moral”, diz Pedro. “Estudei sete anos lá, contando com o mestrado, e nunca paguei R$ 1 para ter a educação que me permite hoje sustentar a minha família.”
O discurso ecoa entre ex-alunos que colaboram, como o presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Dias Toffoli. “A faculdade é como uma segunda família”, diz. “O retorno é o mínimo que podemos fazer, ainda mais em momento em que o Estado passa por dificuldades financeiras.” Com mais de cem colegas da turma de 1990, ele apoia a reforma de uma sala de aula.
Outro grupo de ex-alunos, com cerca de 50 integrantes, mobilizou-se para reformar a sala do estudante. “Ali eram realizados debates, eleições do centro acadêmico, assembleias. Tenho muitas lembranças”, diz o advogado Sérgio Renault, da turma de 1981, que participa do financiamento.
Ele conta que uma das exigências do grupo foi que os atuais estudantes concordassem com a reforma. Com resposta positiva, impuseram como condição que participassem da coordenação da obra, o que também ocorreu.
A precaução evitou repetir problemas do passado. Em 2010, após protestos de professores e alunos, a faculdade tirou o nome dado a duas salas após doações das famílias dos homenageados. As atuais contribuições, segundo o diretor, seguem a regulamentação da USP. Os financiadores são agradecidos em placa que fica na faculdade pelo período de cinco anos.
A contribuição transcende a estrutura. Alinhados à realidade recente da instituição, que adota ações afirmativas, outro grupo, de mais de cem egressos, custeia com pequenas doações individuais bolsas de auxílio de R$ 600 mensais para alunos carentes. O valor ajuda em despesas de moradia, transporte e alimentação.
Para Pedro Henrique Rodrigues Pereira, um dos integrantes do grupo, as iniciativas retomam a tradição da São Francisco de criar redes de apoio e sociabilidade, como a Casa do Estudante, moradia mantida pelo centro acadêmico. “Temos uma tradição muito grande de comunidade”, diz o diretor. “O que estamos fazendo é transformar o franciscanismo em coisas concretas.”
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