COTIDIANO

Doria pede brecha, mas comissão veta megatrio elétrico de Leitte e Mercury

Prefeito apresentou um pedido de avaliação de um trio elétrico com anúncios publicitários enormes, que desrespeitariam a lei Cidade Limpa

Publicado às 9h30

Folha de SP

clima festivo de Carnaval na gestão João Doria (PSDB) foi atropelado por um trio elétrico gigante, com cerca de dez metros de comprimento e mais de três de altura, com as célebres Daniela Mercury e Cláudia Leitte no topo.

Por meio da secretaria de Prefeituras Regionais, comandada por Cláudio Carvalho, a gestão Doria apresentou um pedido de avaliação de um trio elétrico com anúncios publicitários enormes, que desrespeitariam a lei Cidade Limpa e uma cartilha sobre o tema elaborada pela Comissão de Proteção da Paisagem Urbana (CPPU) especialmente para o Carnaval.

O trio contaria com elementos publicitários em suas laterais (painéis de 9 m²) e também em painéis de LED (7 m²) na frente e na traseira do veículo, que revezariam imagens das apresentações musicais e de marcas patrocinadoras, que poderiam ajudar a custear os gastos com as artistas, e por isso interessava à prefeitura que fosse aprovado.

A CPPU é um órgão formado por representantes do poder público e da sociedade civil, responsável por regular a lei Cidade Limpa. Em reunião nesta terça (30), a comissão contrariou a ambição da secretaria e vetou o enorme trio elétrico.

Na cartilha da CPPU, os trios elétricos com mais de 15 metros de carroceria poderiam ter marcas de patrocinadores com no máximo 4 m². Em si, a cartilha já estabelece parâmetros de exibição da marca mais flexíveis que a lei Cidade Limpa, como anúncios de até 4 m² para imóveis com até 100 m de fachada.

Segundo o presidente da comissão, Luís Eduardo Surian Brettas, o pedido chegou às 9h desta terça-feira (30), elaborado de maneira genérica, o que impediria uma avaliação do tema. Durante reunião da CPPU nesta terça, Brettas inicialmente decidiu que nem colocaria o tema em discussão pelos membros. Diante de insistência de representante das Prefeituras Regionais, a discussão foi feita e, por meio de votação, o trio elétrico foi proibido.

“Todo o edital do Carnaval é para a gente conseguir interessados e patrocinadores. O que é complicado é uma entrega [de algo] em que a cidade não está envolvida. É um show importante, mas que passa pela relação de artistas e patrocinadores”, disse Brettas durante a reunião da CPPU.

“É uma entrega que não poderia ser analisada a uma semana do Carnaval. A solicitação pode acontecer, não tem problema, mas teria que ter percorrido todos os procedimentos para ser avaliada para ter uma resolução consciente sobre o impacto que estaríamos autorizando”, completou, à Folha.

“Se a gente está em um momento com falta de dinheiro no país como um todo, em São Paulo não é diferente. A gente precisa ter o apoio e a participação da iniciativa privada. E é óbvio também que o conceito que o patrocinador tem é a exibição da sua marca. O que a gente precisa é que todo mundo entenda que a gente pode colher frutos de outra maneira sem impactar a paisagem”, concluiu.

OUTRO LADO

Procurada pela Folha, a secretaria das Prefeituras Regionais diz que não pediu liberação do trio e queria apenas tirar dúvidas.

“A Secretaria das Prefeituras Regionais esclarece que o pedido não foi para liberação do trio, mas para incluir na pauta de votação as especificações informadas pela produção dos artistas a fim de verificar dúvidas técnicas, inclusive sobre a permissão de painéis de LED. A apresentação poderá ocorrer mediante cumprimento da cartilha da lei Cidade Limpa e a regra é a mesma para todos os blocos. Em caso de descumprimento as medidas cabíveis serão adotadas”, disse em nota.

Por meio da assessoria de imprensa, a secretaria também afirma que as apresentações musicais não serão comprometidas pelo veto ao trio elétrico gigante.

HISTÓRICO

A gestão Doria tem tido seguidos problemas de infração à lei Cidade Limpa.

Em agosto de 2017, autorizou a instalação de 12 placas publicitárias na avenida Brasil, uma das vias mais importantes da cidade. As placas foram colocadas ali para enaltecer o projeto Jardim Brasil, por meio do qual paisagistas e empresas bancaram a recuperação de canteiros da avenida. As placas, porém, eram muito grandes e estavam em desacordo com a Cidade Limpa.

Em setembro do mesmo ano, instalou um totem em formato de coração e com a inscrição “SP” na porta da sede da Prefeitura de São Paulo, em referência ao programa de zeladoria Cidade Linda, prioridade de Doria. O totem também estava em desacordo com a lei.

Em dezembro, a árvore de Natal oficial da cidade, fruto de parceria entre a prefeitura e a empresa Coca-Cola, foi instalada com elementos que haviam sido reprovados previamente pela CPPU.

Os três episódios foram revelados pela Folha, e resultaram na retirada das placas e dos itens da árvore.

 

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