Publicado às 10h45
Folha de SP
“Suspeita” (1941) é um filme construído em torno da desconfiança nutrida por Lina (Joan Fontaine) de que o marido, o vigarista Johnnie (Cary Grant), quer matá-la.
Na cena mais famosa desse que é um dos primeiros grandes sucessos de Alfred Hitchcock, o público é levado a crer que o homem envenenou um copo de leite sem qualquer evidência narrativa. O diretor se limitou a colocar uma pequena luz no recipiente —trucagem sutil, mas que provoca um grande efeito dramático.
Bastidores do tipo, que desvendam os métodos do cineasta londrino, são tema da exposição que abre nesta sexta (13), no Museu da Imagem e do Som, em São Paulo, e explica por que ele virou sinônimo de mestre do suspense.
Além de cartazes antigos, storyboards, fotos de produção, cartas e croquis, a mostra abriga espaços interativos que revelam um aspecto marcante da direção ou da obra.
“Ele não era um cineasta que fazia virtuosismo pelo virtuosismo, mas cada minuto dos seus filmes tinha uma marca muito dele”, diz André Sturm, atual secretário municipal de Cultura, que idealizou a mostra quando ainda estava à frente do MIS, em 2016.
Depois de exibir no país eventos similares sobre David Bowie, Stanley Kubrick e Tim Burton, o curador diz ter enfrentado dificuldades específicas no caso de Hitchcock.
“Não havia nenhuma exposição desse porte lá fora”, diz Sturm. Ele teve que garimpar parte do acervo com pesquisadores e com instituições como a Biblioteca Margaret Herrick, em Los Angeles,guardiã de parte da coleção do diretor, doada por suas herdeiras.
Mas o foco é explicar o que o atual secretário chama de “método” de Hitchcock, isto é, o rigor com que ele construía as cenas de forma a produzir algum efeito no espectador.
Dentro de uma filmografia com cerca de 70 títulos, Sturm escolheu 17 filmes para receber um espaço interativo. De “Janela Indiscreta” (1954), o museu reproduz a visão que o fotógrafo Jeff (James Stewart) tem de seu apartamento nova-iorquino.
Na sala dedicada a “Os Pássaros”, que deve virar um ponto alto para selfies, uma projeção fará o visitante ter a impressão de estar sendo atacado pelas aves que assolam San Francisco no longa de 1963. Já no lugar dedicado a “Suspeita”, revela-se como o copo de leite já citado foi iluminado.
Para “Festim Diabólico” (1948), o destaque é o baú em que os dois amigos, e prováveis amantes, escondem o corpo de um terceiro colega.
“Psicose” (196) está reservado para ser o “grand finale” da visita. Próximo a um espaço que reproduz a fachada do motel da família Bates, o público poderá participar de uma atividade interativa nos moldes das “escape rooms”, salas de jogos de fuga que proliferaram na cidade.
Ao redor das salas interativas, cartazes estrangeiros mostram diferentes abordagens à obra do cineasta inglês. O minimalismo polonês está expresso nos pôsteres conceituais de “Um Corpo que Cai” (1959) e “Frenesi” (1972).
A mostra também traz material audiovisual considerável, caso das apresentações feitas pelo diretor para os curtas da série “Alfred Hitchcock Presents” (1955-1962). Em vídeo, a atriz Eva Wilma lembra o teste que fez para viver a cubana Juanita de “Topázio” (1969). Perdeu o papel, mas não deixou de bater boca, em português, com o cineasta.
Em paralelo à exposição, o museu também sediará curso de 12 aulas sobre Hitchcock.
Na abertura, nesta sexta (13), o MIS ficará aberto para visitação madrugada adentro, até as 21h de sábado (14).
Hitchcock – Bastidores do Suspense
Onde: Museu da Imagem e do Som, av. Europa, 158, tel. (11) 2117 4777
Quando: Até 21/10. Ter. a sáb., das 10h às 21h. Dom. e feriados, das 11h às 19h
Quanto: R$ 6 a R$ 20.
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