COTIDIANO

Choveu, apagou: Prefeitura leva até 5 dias para reparar semáforo

Casos graves demoram em média 4 horas para serem consertados; gestão Doria falava em 2 horas

Publicado às 12h25

Folha de São Paulo

O motorista de ônibus Jorge Lopes, 60, sabe bem o efeito de um semáforo quebrado em seu trajeto diário. “A gente tem que dar preferência para carros menores, e os pedestres também querem atravessar. Tem que ir avançando com cuidado, mas é uma confusão”, conta.

A primeira esquina encarada por Jorge em sua viagem diária a partir do terminal Correio, no centro de São Paulo, não ajuda muito nessa experiência. No cruzamento das ruas Brigadeiro Tobias e Coronel Batista da Luz, o semáforo já chegou a ficar apagado durante mais de cinco dias.

Além do transtorno e do aumento do risco de acidentes, a demora para reparar o semáforo mostra como a prefeitura não conseguiu fazer com que as empresas responsáveis pela manutenção dos aparelhos fizessem o reparo do sistema com a agilidade que era prometida por João Doria (PSDB) —que saiu do cargo em abril para disputar o governo paulista e foi sucedido pelo vice, o também tucano Bruno Covas.

Semáforos: apagão e promessa de agilidade

No primeiro semestre de 2017, a capital paulista viveu uma série de apagões nos semáforos após o término dos serviços terceirizados. A gestão tucana prometia solução ao firmar novos contratos, de mais de R$ 40 milhões por ano, com a iniciativa privada.

Dados obtidos pela reportagem mostram que, mesmo com os serviços terceirizados desde agosto, os defeitos mais graves em semáforos, que podem colocar o trânsito e a população em risco, levaram em média quatro horas para serem solucionados.

Em seis meses, houve 111 episódios considerados graves de semáforos que demoraram mais de 24 horas para serem reparados. Alguns casos foram extremos, como o do semáforo apagado na rua Brigadeiro Tobias, que levou cinco dias para ser consertado.

Quando anunciou o atual contrato de manutenção, o então presidente da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego), João Octaviano Machado Neto, promovido por Covas a secretário dos Transportes, disse que os reparos de semáforos seriam feitos, em média, em duas horas.

“Vai mudar o número de equipes na rua, o número de equipes das empresas contratadas e o número de equipes próprias da CET. De maneira que a gente consiga fazer rapidamente uma atuação nesses semáforos. Nesse edital [do contrato] sai um tempo médio de duas horas para manutenção dos semáforos”, disse em entrevista à TV Globo.

Em outubro, o ex-prefeito Doria foi ainda mais enfático: em um vídeo com mais 200 mil visualizações em suas redes sociais, afirmou que, com o auxílio das novas motos, os consertos seriam “no máximo” em duas horas.

O próprio contrato assinado com as empresas prevê o atendimento dos casos graves em até duas horas —período que pode ser prorrogado indefinidamente mediante apresentação de justificativas.

Demora

Pelos dados da CET , entre agosto de 2017 e janeiro de 2018, quando os contratos de manutenção estavam em vigor, foram registradas 12.827 panes —a cidade inteira tem 6.300 esquinas com semáforos. Em 65% dos casos, a espera por uma solução foi maior do que as duas horas prometidas.

Na média de todos os tipos de falha (incluindo ainda casos menos graves, que não expõem a população a grandes riscos), a demora foi de 11,6 horas para uma solução.

Nos meses de 2017 anteriores à assinatura dos contratos de manutenção, a espera era de, em média, 15,2 horas.

A reportagem comparou ainda a espera por reparo em cada uma das panes com os prazos de atendimento previstos em contrato. A depender da gravidade da falha semafórica, estão estipulados três prazos: duas horas, 12 horas e 24 horas. Nessa comparação, o conserto dos semáforos ultrapassou o estipulado em 31% dos casos, levando em conta cada um dos prazos.

Falhas

Nas falhas consideradas mais graves pela CET, que deveriam ter um reparo em até duas horas, o índice de atraso foi ainda maior: 47%.

A CET, entretanto, considera que a comparação dos prazos não é correta e que as promessas foram mal interpretadas. Diz que os tempos previstos seriam para chegar ao local, e não para solucioná-los.

Quando se observam as falhas de média e baixa gravidade (que têm prazos de 12 horas e 24 horas), percebe-se que em pelo menos 25 vezes os atrasos superaram um mês.

A maior espera por uma solução no período foi de 61 dias, intervalo em que a fechadura do computador que controla o semáforo da esquina da rua Thomas Carvalhal com a avenida Bernardino de Campos, no Paraíso, esteve quebrada.

A falha não afeta o funcionamento do dispositivo, mas o deixa vulnerável a atos de vandalismo e às chuvas na cidade. Em outro caso, uma das três luzes do semáforo da rua Inhambu, em Moema (zona sul), ficou 37 dias quebrada.

Prazo para manutenção

A CET diz que não há prazo máximo para solucionar uma falha em semáforo e que os limites estabelecidos são para chegar ao local do problema. Essa interpretação do contrato é favorável às prestadoras de serviço, que têm mais tempo para corrigir os defeitos.

O que ocorre é que as contratadas, em vez de respeitarem os prazos do contrato, acabam recorrendo a outra cláusula que diz que, em caso de falhas mais complexas, é possível estender o limite de tempo para que o semáforo volte a funcionar, desde que seja apresentada uma justificativa para a chefia da CET.

“O que a gente impõe às empresas é que elas cheguem ao local em duas horas [para os casos considerados mais graves]”, afirma Milton Persoli, presidente da CET.

A companhia diz que sempre deixou pública a informação de que os prazos serviam para que as empresas chegassem aos semáforos quebrados, e não para arrumá-los.

A CET diz que nos defeitos mais graves, que colocam o trânsito em risco, as empresas cumpriram 100% dos prazos para chegar aos locais com problema. A companhia argumenta ainda que prioriza a emissão de ordens de serviço dos casos mais graves.

Segundo o presidente da CET, caso as empresas cheguem aos locais com atraso, elas serão multadas.

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