COTIDIANO

Teste de Doria, Carnaval lota 23 de Maio com axé, funk e hits dos anos 90

Foliões ocupam cerca de 800 metros da via na tarde deste domingo (11)

Publicado às 11h45

Folha de SP

Principal teste da folia na gestão João Doria (PSDB), o Carnaval na avenida 23 de Maio estreou neste domingo (11) em São Paulo com público animado, corredor gourmet de serviços e comidas e algumas falhas de estrutura.

Foliões reclamaram de dificuldade para se deslocar ao longo da via, o trajeto de ambulâncias chegou a ser bloqueado pela multidão, e houve gargalos na dispersão.

A avenida foi escolhida pelo tucano para receber os megablocos em uma tentativa de instituir na cidade um circuito comercial aos moldes da folia em Salvador. “É um teste que nós vamos fazer. Adoro o Carnaval da Bahia”, disse o prefeito há duas semanas.

A escolha visava ainda afastar as multidões de regiões mais residenciais, como Vila Madalena (zona oeste).

“Se funcionar bem, tivermos mais créditos do que débitos, a via será incorporada ao Carnaval definitivamente”, afirmou o prefeito na noite de sábado (10), horas antes de a 23 ser interditada para a passagem dos blocos.

O primeiro deles, Domingo Ela Não Vai, abriu a festa às 11h com axé, e foi seguido por funk e música dos anos 90, entre outros ritmos, com os blocos Sunday Jr./Vou de Táxi, Desmanche e Chá Rouge.

De um lado da pista, passavam os trios. De outro, um “corredor gourmet” tinha barracas que ofereciam de churrasco grego a churros de cheesecake, passando por sorvete e cerveja artesanais.

Estandes patrocinados por uma barbearia e uma concessionária ofereciam “espaços de descanso”, com bancos e sombra. Uma operadora de telefonia instalou ainda totens com tomadas para os participantes da festa conseguirem carregar o celular. Apesar de elogiar o leque de serviços, parte dos foliões tinha dificuldade de acessá-los.

Com uma grande extensão da 23 de Maio dividida por barreiras de segurança de concreto, quem estava do outro lado da pista tinha que subir em cada uma delas para ir ao outro lado da pista.

Usando vestido branco de fantasia de anjo, uma adolescente teve que ser ajudada para encontrar as amigas. Na parte de trás das barracas, junto às grades, um corredor de gente se formou.

Além das barreiras no meio da pista, bloqueios de metal foram instalados nas laterais para delimitar a área reservada à passagem de ambulâncias e de equipes de apoio –o que nem sempre funcionou.

Ao menos três ambulâncias tiveram que passar no meio da multidão, ao lado do trio elétrico, para socorrer pessoas. O posto médico chegou a funcionar no escuro, mas, depois de chamarem o responsável pelo gerador, os profissionais perceberam que era só uma tomada desligada.

Ao anunciar a 23 de Maio como palco das multidões, Doria havia argumentado que a escolha permitira um melhor atendimento médico.

“[Será] Mais seguro, mais eficiente, [haverá] melhor conforto para a população e para os serviços públicos. Ambulância, atendimento, abastecimento, bombeiros”, afirmou o prefeito no anúncio, feito em outubro do ano passado.

No fim do dia, participantes da folia retiraram as grades instaladas nas laterais de uma das pistas e subiram nos gramados ao lado da avenida, onde uma espécie de “camarote” informal se formou.

A falta de sinalização para as saídas e outros pontos de apoio dentro da avenida foi apontada como um problema pela estudante Stephanie Santana, 28. Ela diz ter levado uma hora para ir e voltar do banheiro em uma drogaria nas proximidades, por não saber onde ficavam as cabines ao longo da via.

Ainda assim, ela fez um balanço positivo da escolha da 23 de Maio para receber os blocos. “Aqui está cheio, mas quem não quiser ficar no meio da multidão pode só se afastar um pouco. No ensaio do Baixo Augusta [na rua de mesmo nome], o pessoal ficou mais aglomerado”, afirmou.

Os foliões Alana Rodrigues, 30, Flávio Moraes, 30, e Maria Rodrigues, 29, também aprovaram a nova localização dos megablocos. Segundo eles, na avenida e em frente ao parque Ibirapuera há mais espaço e menos empurra-empurra do que em outras vias mais estreitas.

A reportagem presenciou uma tentativa de roubo de celular. O assaltante foi perseguido por foliões e acabou sendo detido pela polícia. Foliões, contudo, relataram sensação de segurança em geral.

“Eu me sinto mais segura aqui”, disse a estudante Beatriz Mariano, 18, que estava junto à um grupo de amigas. “O maior problema foi o lixo”. As lixeiras espalhadas pela avenida aparentemente não deram conta ou foram ignoradas pelos foliões, o que levou a acúmulo de sujeira ao longo da avenida durante a passagem dos blocos.

No fim do dia, a via ainda abrigava uma multidão de foliões animados. A aglomeração dos participantes nas saídas levou a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) a fazer bloqueios nos dois sentidos da avenida Vergueiro.

Das duas entradas abertas no fim do dia na estação Paraíso, nas proximidades, uma funcionava só para entrada, e outra, só para saída.

Questionada, a prefeitura ainda não divulgou balanço sobre a estrutura da folia na 23 de Maio. A administração municipal informou, no entanto, que manterá o bloqueio na via durante a madrugada.

O projeto inicial da prefeitura era abrir a avenida para carros às 22h e voltar a fechá-la às 6h de segunda. Segundo a prefeitura, com a via bloqueada, serão feitas ações de zeladoria para o segundo dia de megablocos na via. Desvios foram montados e linhas de ônibus alteradas por conta da mudança.

PÚBLICO

A gestão João Doria (PSDB) diz que 1,2 milhão de pessoas participaram do Carnaval de rua neste domingo (11) na av. 23 de Maio, de maneira rotativa, e que 250 mil foliões estiveram nos blocos do restante da cidade. Questionada, ainda não divulgou critérios da contagem.

No final de semana do pré-Carnaval, a prefeitura chegou a enaltecer um público de 3,95 milhões de pessoas nos blocos. Conforme mostrou a Folha, a estimativa foi feita a partir de um apanhado de dados de fontes distintas e sem nenhuma metodologia uniforme de contagem.

A quantidade destoa de outros grandes eventos medidos pelo Datafolha a partir de metodologia própria de contagem de multidões. O maior evento político contabilizado pelo instituto foi o protesto pelo impeachment de Dilma Rousseff (PT), que reuniu aproximadamente 500 mil pessoas, em 13 de março de 2016 . O protesto do dia 20 de junho de 2013, organizado em São Paulo pelo MPL (Movimento Passe Livre), teve 110 mil participantes.

Na primeira noite de desfiles das escolas de samba de São Paulo, na sexta (9), Doria chegou a dizer que drones haviam sido usados no final de semana anterior para ajudar na estimativa de público do pré-Carnaval.

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