Publicado às 9h15
Folha de SP
Três em cada dez escolas ligadas à Secretaria de Educação do governo Geraldo Alckmin (PSDB) não conseguiram superar a média nacional da redes estaduais do país na edição de 2016 do Enem. A rede escolar do Estado mais rico do país é superada por outros cinco Estados.
O governo federal deixou de apresentar os resultados do exame por escola neste ano. A Folha então acessou os dados divulgados pelo MEC (Ministério da Educação) e tabulou os resultados.
A reportagem excluiu escolas com menos de dez alunos do 3º ano no exame e/ou com menos de 50% do total de alunos na prova, seguindo critério do MEC de anos anteriores.
O método já revela a dificuldade da rede paulista em estimular seus alunos a fazer o Enem, o que já ocorria nos rankings de anos anteriores. Alckmin é pré-candidato à Presidência da República.
Das 3.600 escolas de ensino médio do Estado, 60% não tiveram ao menos metade dos alunos no exame. Assim, não tiveram médias calculadas.
O Enem é a porta de entrada de quase todas universidades federais e de algumas estaduais, como a USP.
A média de cada escola foi calculada a partir da nota dos alunos nas áreas da prova objetiva (linguagens, matemática, ciências da natureza e ciências humanas). Escolas técnicas do Centro Paula Souza foram suprimidas. As unidades têm prova de admissão.
Das 1.399 estaduais com notas, 423 ficam com média abaixo de 488,23. Essa é a média das redes estaduais do país.
A média geral da rede foi de 525,7. É superada pelas redes do Rio Grande do Sul, Distrito Federal, Santa Catarina, Paraná e Minas Gerais.
Um grupo de 139 escolas paulistas, que representa as 10% mais bem posicionadas, puxa a média da rede para cima. As notas variam, nesse conjunto, de 514,42 a 545,31.
A escola Prof. Maria Dolores V. Madureira, em São José dos Campos (a 94 km da capital), teve o melhor desempenho no Estado (545,31).
Entre as escolas do topo, 49% são de nível socioeconômico “alto”. Essa classificação do MEC, adotada nas últimas divulgações do Enem, contém sete patamares, de “muito baixo” a “muito alto”.
No outro extremo, nas 10% de pior desempenho, as médias variam de 443,60 a 478,32. Os níveis socioeconômicos de 39% dessas escolas estão entre “médio” e “médio alto”.
PERFIL
O retrato de SP é mais privilegiado ao se comparar com a média do país. Na rede paulista, 22% das escolas são de nível socioeconômico “alto”.
Somente 10% de todas as unidades estaduais do país têm alunos com esse perfil. Pesquisas evidenciam correlação entre nível socioeconômico e desempenho escolar.
Para João Cardoso Palma Filho, professor da Unesp e ex-secretário-adjunto de Educação de SP, a falta de recursos para a educação acentua dificuldades que impedem melhorias. Segundo ele, o problema começa com a falta de políticas no fundamental.
“O estudante já chega no médio com defasagem. Se olhar a infraestrutura das escolas, é lamentável. Ainda falta professor para disciplinas como física e química”.
Palma Filho ainda discorda da política de escolas de tempo integral do Estado, com número reduzido de alunos. “O Estado não tem folego financeiro para expandir isso de forma significativa.”
Ana Paula Corti, professora do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo, também questiona essa postura. “Cria ilhas de excelência e aprofunda as desigualdades nas outras escolas.”
OUTRO LADO
A Secretaria da Educação do Estado de São Paulo, do governo Geraldo Alckmin (PSDB), afirmou em nota que os dados do Enem não são adequados para analisar o desempenho das redes de ensino, porque “tem participação voluntária”. O governo afirma que a rede mantém ensino universalizado, sem seleção de estudantes.
“Como o governo federal e especialistas em educação constantemente alertam, a avaliação correta para verificar o desempenho de redes de ensino no Brasil é o Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica)”, afirma a nota da gestão tucana.
O MEC (Ministério da Educação) deixou de calcular as médias do Enem por escola neste ano sob o argumento de que os resultados não são a melhor alternativa para avaliar redes. Essa posição não é consenso entre pesquisadores. A Folha tabulou os dados de desempenho a partir dos dados oficiais do MEC.
Até agora, não há dados do Ideb por escola no ensino médio, como ocorre por exemplo no ensino fundamental. O índice da etapa é calculado a partir de amostra de escolas, só havendo uma nota por rede e no total do país.
O MEC promete produzir e divulgar na próxima edição do Ideb dados por escolas do ensino médio.
Na nota da Secretaria de Educação, o governo defende que São Paulo é o “primeiro lugar do Brasil nos três ciclos de ensino no Ideb”.
“No ensino médio, ciclo que reúne a maior quantidade de alunos da rede estadual e os maiores desafios dos educadores de todo o mundo, o Estado lidera apresentando crescimento na média. Os estudantes saíram de 3,7 para 3,9 entre as duas últimas aferições”, diz a nota.
Apesar de ter crescido 0,2 pontos no Ideb, entre 2013 e 2015, a rede estadual de São Paulo ficou abaixo da meta do índice no ensino médio (que era de 4,2). Também nos anos finais do ensino fundamental (6º ao 9º anos) houve crescimento do Ideb, mas da mesma forma a rede está abaixo da meta.
“As ações da secretaria não priorizam o desempenho única e exclusivamente em qualquer tipo de avaliação, mas há um constante estímulo pela melhoria da aprendizagem, no projeto de vida dos jovens e pela continuidade dos estudos ou no mercado de trabalho”, diz a nota.
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