Publicado às 12h08
Por Cristina Braga
Três documentários indígenas produzidos nas aldeias Guarani Mbya, no bairro Jaraguá, na zona noroeste, foram selecionados para o Ecocine 25 anos – Festival de Cinema Ambiental e Direitos Humanos que ocorre no litoral, em São Sebastião. São eles: Atrás da Pedra – Resistência Tekoa Guarani (2015, dir. Thiago Carvalho; roteiro, Taís Oliveira; produção, Guilherme Queiroz) Ribeirão das Lavras – Um rio Guarani (2016, dir. Jam Jekupe e Thiago Carvalho) e inédito ainda não divulgado, Maino’i – Opy Pyau Itakupe (2017 dir. Thiago Carvalho e Caio Tupã Mirim).
Na edição que acontece neste ano, foram selecionados 33 filmes, com temáticas ambientais e de direitos humanos, e a mostra competitiva do festival acontecerá no litoral norte de São Paulo, assim como as Mostras Itinerantes.
Em sua quinta participação em festivais, Atrás da Pedra é o primeiro documentário a abordar a luta do povo Guarani pela demarcação de suas terras próximas ao Pico do Jaraguá, no bairro Jaraguá. Desde que foi disponibilizado no YouTube no início de 2016, o filme já contabiliza mais de 6.700 visualizações. Sua estreia em cinema público foi no dia 19 de dezembro de 2015, no CEU Perus, em São Paulo.
História Revelada
Pela primeira vez selecionada para uma mostra de cinema, Ribeirão das Lavras – Um rio Guarani foi produzido em 2016 para contar a história e atual situação do rio histórico que nasce no Parque do Estado, passa pela aldeia e segue seu percurso. O rio serviu os Bandeirantes para limpeza das pedras preciosas extraídas do local e para o consumo dos Guarani na região, como para pesca, banho e consumo.
Em 2017, a aldeia Tekoa Itakupe deu início à construção da sua primeira Opy’i (Casa de Reza) e este momento tão sagrado e especial foi acompanhado e registrado pelos jovens da aldeia, que somaram à produção de um curta para narrar este momento e falar de sua importância, que recebeu o título de Maino’i – Opy Pyau Itakupe (Nova Casa de Reza de Itakupe). Maino’i é, pela segunda vez, selecionado para um festival de cinema. O primeiro foi a 8a. Mostra Petrópolis Audiovisual.
Os três filmes discorrem assuntos diferentes, mas que tratam de demarcação de terra, resistência, luta pelo direito originário previsto em Constituição de 1988, como o direito à terra. São obras independentes, sem patrocínio ou editais, produzidas em conjunto com a comunidade.
Abaixo a entrevista para da repórter Cristina Braga realizada com Thiago Carvalho |Jornalista, Fotógrafo e Documentarista.
FN: Qual o significado desses trabalhos para você?
R: Hoje eles têm um significado muito especial. Estar com a família Guarani, do Jaraguá ou em qualquer outra comunidade indígena – atuando em qualquer frente ou nos simples momentos de estar juntos, é também uma busca e reencontro com minhas origens e identidade indígena, que o estado e sociedade me obrigou a repensar e esquecer.
FN: Qual sua idade? Reside no Jaraguá?
R: 28 anos, sim, há 20 anos
FN: Como foi realizar as três obras? Em quanto tempo?
R: Fazer o ‘Atrás da Pedra’, que foi o primeiro, trouxe uma grande mudança na minha vida, no sentido espiritual e político da causa. Foi um documentário, assim como os outros, produzido a pedido da comunidade e com o apoio dela na produção. Eles têm o objetivo, para mim e para todos – acredito – de auxiliar na luta pelo direito da comunidade indígena, como o direito a terra, ao respeito, às suas tradições e cultura. ‘Ribeirão das Lavras’ nasce com um pedido de uma liderança da aldeia e amigo, o professor Jam Jekupe, da aldeia Tekoa Ytu. Fez parte de um projeto de limpeza no espaço verde da aldeia, que o chamamos de ‘Projeto Natureza’, onde a comunidade e os apoiadores e apoiadoras não indígenas trabalharam juntos. Então, veio o pedido para registrar os trabalhos e falar do rio que corta a aldeia. Produzir ambos, com a comunidade participando e deixando o seu olhar, foi gratificante e enriquecedor. Nada paga e nada apaga os momentos de aprendizados que tivemos todos e todas juntos. A sensação é de dever cumprido.
Cronologia dos documentários
Atrás da Pedra (2015) produzida no ano inteiro
Ribeirão das Lavras (2016) produzido no ano inteiro
Maino’i – Opy Pyau Itakupe (2017) – segundo semestre do ano
Assista o documentário selecionado para o festival
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