Publicado às 9h
Jornal Agora
Famílias reclamam que a reestruturação do Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) na capital, com o fechamento de bases, aumentou o tempo até a chegada das ambulâncias, e isso teria colaborado para mortes de pacientes.
No fim de março, a prefeitura, sob a gestão Bruno Covas (PSDB), fechou bases modulares e transferiu equipes para hospitais e unidades de saúde. A prefeitura diz que a reestruturação vai melhorar o atendimento.
No dia 13, a dona de casa Sebastiana Gomes da Silva, 85 anos, sofreu um infarto na porta de casa na Vila Dalva, no Rio Pequeno (zona oeste). Ela morava a 1 km de onde ficava uma base do Samu do Jardim Sarah (uma das desativadas).
A ambulância para atendê-la saiu da base Pat Band, na praça Augusto Rademacker Grunewald, na Vila Olímpia (zona sul), a 15 km.
Filha da vítima, a dona de casa Nilda Elisa da Silva, 66, disse que o Samu demorou mais de meia hora para chegar _os médicos, porém, dizem que entre o despacho da ambulância e a chegada levou-se 17 minutos, o que ainda assim é um tempo acima da média necessária (leia abaixo). “O médico que atendeu minha mãe fez o que pode, mas não deu tempo”, diz. A paciente morreu no Hospital Universitário.
Um funcionário do Samu explicou que a agilidade no atendimento da idosa poderia ter evitado a morte.
Em outro caso, no dia 18, um homem identificado como José sofreu parada cardíaca na Vila Ré (zona leste). A equipe acionada para atendimento estava no Tatuapé, a 10 km. Antes de ser desmontada, a base que cobria a região, em Arthur Alvim, ficava a 3,8 km do local.
Quando a ambulância chegou, após 19 minutos, os bombeiros já tinham levado o paciente ao Hospital Municipal de Ermelino Matarazzo, onde ele morreu.
Problemas
João Gabriel, vice-presidente do Sindsep (Sindicato dos Servidores Municipais de São Paulo) critica as mudanças no Samu, que teria ficado com a estrutura prejudicada, com menos agilidade no atendimento e na manutenção das ambulâncias.
“O entendimento do sindicato é o de que as mudanças promovidas pelo governo já acarretaram em perdas de vidas, por conta das condições insalubres de trabalho, resultante da troca de endereço de bases”, disse.
Servidores denunciaram também o desmonte de equipes, com a troca de pessoas experientes.
Um exemplo de possível causa para o atraso em prestação de socorro ocorreu no dia 16, na base Campo Limpo (zona sul), segundo funcionários do serviço, a região ficou descoberta pelo Samu das 7h até às 11h54 devido a perda da chave do portão.
O Agora teve acesso a um áudio em que funcionário comunica a central 192 o horário da liberação da ambulância.
Tempo
Órgãos internacionais de saúde preconizam 12 minutos o tempo máximo para a chegada de socorro em casos de prioridade máxima, como infartos, AVC (Acidente Vascular Cerebral) e acidentes graves, por exemplo.
O cardiologista do Hospital Samaritano e instrutor de cursos de ressuscitação Diego Ribeiro Garcia alerta que os danos cerebrais podem surgir após um minuto em parada cardíaca. “Tempo é vida. Se a parada ocorrer em ambiente extra-hospitalar, o Samu deverá prestar atendimento imediato”, afirma.
Segundo a Sociedade Brasileira de Cardiologia, a cada um minuto sem desfibrilação, as chances de sobrevida caem 10%.
Paralisação
Até 70% dos funcionários do Samu podem cruzar os braços, por tempo indeterminado, a partir das 7h desta terça-feira, segundo o sindicato da categoria. Desde 1º de Abril, os trabalhadores paralisaram parcialmente os serviços três vezes, questionando as mudanças de endereço de 31 bases, promovidas pela gestão Bruno Covas (PSDB).
Sérgio Antiqueira, presidente do Sindsep (Sindicato dos Servidores Municipais de São Paulo), se reuniu na tarde de ontem com a Promotoria.
Ele disse que o sindicato irá realizar vistorias nas bases para onde trabalhadores foram transferidos, e entregar um relatório ao MP. “Vamos buscar mais uma tentativa de diálogo.”
Resposta
Sobre os casos citados pela reportagem com demora no atendimento de pacientes, a SMS (Secretaria Municipal da Saúde), sob a gestão do prefeito Bruno Covas (PSDB), diz que abriu apuração preliminar para averiguação.
A pasta afirma que está aberta ao diálogo com os funcionários do Samu e que as adequações necessárias estão sendo e serão feitas durante o processo para garantir as condições de trabalho.
A secretaria afirma que, na última paralisação realizada pelo sindicato, na quinta-feira passada (18), 21,8% dos profissionais do Samu escalados não compareceram ao trabalho. Segundo a pasta, não é possível determinar o percentual de faltas relacionadas à paralisação.
A coordenação do serviço diz que adotou, na ocasião, medidas para reduzir o impacto e que intensificou a ação das equipes de regulação para garantir que os casos de maior gravidade recebessem prioridade.
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