COTIDIANO

Número de motociclistas mortos no trânsito de SP supera óbitos de pedestres pela 1ª vez desde 1979

Relatório Anual de Acidentes de Trânsito com dados de 2018 foi divulgado pela Companhia de Engenharia do Tráfego (CET)

Publicado às 10h25

Agência Estado

O número de óbitos de motociclistas em acidentes de trânsito ultrapassou, pela primeira vez desde 1979, a quantidade de pedestres que morreram atropelados. Foram 366 vítimas fatais que estavam em motos, ante 349 pessoas a pé.

Os dados se referem a 2018 e são do Relatório Anual de Acidentes de Trânsito, divulgados pela Companhia de Engenharia do Tráfego (CET) nesta quarta-feira, 23. O ano de 1979 foi quando a CET começou a divulgar o relatório anual de acidentes de trânsito em São Paulo.

Antes de divulgar os números, já a par da alta no número de mortes de motociclistas no trânsito, a gestão do prefeito Bruno Covas (PSDB) anunciou a proibição de motos na pista expressa da Marginal do Pinheiros.

A medida começou a valer em 20 de maio e integra o Plano de Segurança Viário 2018-2019 anunciado há pouco mais de um mês pela gestão municipal.

Ao assumir a Prefeitura no início de 2017, uma das primeiras medidas do ex-prefeito João Doria (PSDB), atual governador de São Paulo, foi aumentar a velocidade nas Marginais do Tietê e do Pinheiros. Naquele ano, a CET proibiu a presença de motos na pista central da Marginal do Tietê emtre 22 horas e 5 horas.

Em relação a 2017, houve um aumento de 6,5% no total de mortes no trânsito – de 797 óbitos para 849, no ano passado. Isso dificulta o cumprimento de uma das metas da gestão Covas: a redução do índice de mortalidade no trânsito para 6 a cada 100 mil habitantes – hoje, a taxa na capital paulista é de 6,95.  Em 2017, esse índice era de 6,56.

No ano retrasado, foram registradas 797 mortes por ocorrências de trânsito, sendo 331 atropelamentos fatais de pessoas que estavam a pé e 19, de bicicleta. Já em 2018, 849 pessoas perderam a vida no trânsito paulistano, das quais 349 estavam a pé e 37, de bicicleta.

Segundo o relatório, dos 366 motociclistas mortos, 58 (16%) moravam fora da capital. Em relação a pedestres, das 349 vítimas fatais, 78 (22%) tinham 60 anos ou mais. Entre as vítimas fatais, 50% dos pedestres, 37% dos ciclistas, 35% dos condutores e passageiros, além de 27% dos motociclistas morreram a menos de 2 quilômetros de suas casas.

Para o coordenador executivo da Iniciativa Bloomberg Para a Segurança Global no Trânsito – parceira da Prefeitura de São Paulo desde 2015 para a redução do número de acidentes e mortes no trânsito -, Pedro de Paula reconhece que os dados são “altíssimos”. Porém, segundo ele, em termos estatísticos, um ponto fora da curva de tendência “acontece em toda série histórica estatística”.

Para Pedro de Paula, chamou atenção que os óbitos ocorreram em rodovias do perímetro urbano – Raposo Tavares e Bandeirantes -, que são de responsabilidade estadual. “Embora sejam vias de jurisdição estadual, concedidas, estão em perímetro urbano. E se estão em perímetro urbano, tem que ter infraestrutura adequada à cidade”, afirma.

Os dados consolidados de 2018 mostram que mais motofretistas estão morrendo. O número de óbitos desses profissionais passou de 28, em 2017, para 50, no ano passado.

Além de se destacarem as mortes dos motofretistas, a maior parte dos motociclistas mortos tinha entre 20 e 29 anos, e dirigia durante a madrugada em rodovias do perímetro urbano. Do total de 366 óbitos, 67 ocorreram nas madrugadas de sexta, sábado e domingo. E um em cada 4 estavam a menos de dois quilômetros de casa quando sofreram o acidente fatal.

“Somente esse tipo de informação, com o fato de que esse grupo se acidenta de madrugada e à noite mais frequentemente do que os outros grupos, pode estar associado ao fato da profissão, pela proximidade entre casa e trabalho. É uma volta para casa que está concentrando grande parte desses acidentes”, explica Rafael Godoy, coordenador de dados da Iniciativa Bloomberg.

Áreas calmas

O plano de segurança viária da prefeitura prevê a alocação de R$ 35 milhões para as intervenções de segurança viária, com a criação de quatro “áreas calmas”até 2020- em Santana, São Miguel Paulista, Lapa e Centro –  e “rotas escolares seguras”.

Nessas áreas, a redução da velocidade não deve acontecer apenas pela imposição de novos limites, mas pela aplicação de transformações no viário, como estreitamento de pistas, instalação de lombadas e faixas de pedestre elevadas, maior tempo de travessia para pedestre e alargamento de calçadas.

Em 2016,  Fernando Haddad havia implementado na cidade áreas com limite máximo de 30 km/h, chamadas de “Área 30”. A primeira foi instalada em um quadriláteto da Lapa.

‘Nefasta promessa eleitoral’

Em nota, associações de ciclistas e pedestres lamentaram o aumento, que, para eles, “já era iminente na percepção da sociedade civil organizada”.

Para os grupos, o aumento dos limites de velocidade é o cumprimento de uma “nefasta promessa eleitoral”. As associações defendem que a Prefeitura volte a reduzir as velocidades máximas nas vias da cidade.

“O aumento no número de morte de elementos vulneráveis no trânsito, como pedestres e ciclistas, reforça a necessidade urgente de forçar a redução de velocidades por toda a cidade. E isso deve ser feito não apenas com a implantação de radares e fiscalização por toda a cidade, mas também com projetos de mudanças nos desenhos das ruas, de forma a obrigar motoristas a dirigirem com o máximo de cautela e atenção”, pedem em nota os grupos.

“As organizações da sociedade civil que lutam pela mobilidade urbana mais sustentável e humana seguirão exigindo prioridade real à vida, conforme dita a lei”, conclui o texto.

Regulamentação

Em nota, a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) informou que a Secretaria Municipal de Mobilidade e Transportes (SMT) discute a regulamentação do serviço de motofrete por aplicativos, em reuniões com as empresas e com o sindicato da categoria.

“Com base no relatório de 2018, percebe-se um aumento expressivo do número de motofretistas mortos em acidentes, de 28 para 50. Isso equivale a um crescimento de mais de 78%, enquanto o número total de motociclistas mortos cresceu cerca de 17%.”

A CET informou, ainda, que “monitora permanentemente as estatísticas e o comportamento do trânsito na cidade para nortear a implantação de medidas de segurança viária”, que “mantém cursos voltados para motociclistas amadores e profissionais” e que “realiza fiscalização constante, em parceria com a Polícia Militar, contra abusos e o desrespeito às leis”.

Segundo a Companhia, as Marginais do Tietê e do Pinheiros, por se tratarem de vias expressas e de grande movimento, concentram uma parcela dos acidentes com motos.

“A readequação das velocidades nas duas vias, no entanto, não pode ser relacionada ao número de acidentes, como mostra a queda de mortos na Marginal Tietê, onde as velocidades são as mesmas da Marginal Pinheiros. Por isso, a obrigatoriedade de tráfego de motos pela pista local está sendo adotada na Marginal Pinheiros.”

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