Publicado às 9h20
Folha de SP
Fechada desde o fim do ano passado por falta de salva-vidas e de manutenção, a piscina do complexo esportivo onde está localizado o ginásio do Ibirapuera, na zona sul de São Paulo, é usada por assessorias esportivas que cobram mensalidade de atletas para dar aulas no equipamento público.
Durante esse período, porém, alunos de assessorias esportivas que pagam pelas aulas na piscina utilizam o equipamento normalmente, o que causou indignação por parte de quem aguarda para frequentar as aulas públicas.
Desde o início do ano, cerca de 380 pessoas se inscreveram para praticar natação no local de forma gratuita. Todos os anos são organizados sorteios, uma vez que a demanda de alunos é sempre maior do que o número de vagas.
Segundo o secretário de Esportes, Aildo Ferreira, a exploração comercial da piscina pública é consequência de um contrato assinado em fevereiro que concedeu seu uso por cinco horas semanais durante três meses a uma empresa de eventos esportivos, a Gaivotas Eventos, por R$ 22,9 mil.
Há indícios, de acordo com o secretário, de que essa empresa subloca os horários a assessorias esportivas que cobram cerca de R$ 200 por mês para dar aulas de natação na piscina pública.
“Ainda estamos investigando o assunto, mas a empresa não estava autorizada a conceder horários na piscina a terceiros”, diz o secretário. “O contrato com a Gaivotas Eventos se encerra no fim deste mês e já dei ordens para não ser renovado.”
A reportagem encontrou ao menos três empresas que oferecem aulas de natação pagas na piscina do Ibirapuera e na piscina localizada no estádio do Pacaembu, também de uso público.
Sócio da Gaivota Eventos, Maurício Akio afirmou que não sabia sobre a proibição da sublocação da piscina e que não deu mais aulas no local desde que foi comunicado da vedação pela direção do complexo, na última terça-feira (28).
Segundo ele, eram cobrados R$ 70 mensais a cerca de 40 alunos que frequentavam a piscina durante uma hora nas manhãs de segunda, quarta e sexta e nas noites de terça e quinta. “As bombas e os chuveiros não funcionavam, o lugar estava largado. Usamos o dinheiro para comprar baldes de cloro, fazer a limpeza da piscina e contratar um salva-vidas”, diz.
O sócio da empresa disse que foi procurado por professores de natação que perderam seus empregos depois que academias da região fecharam as portas por causa da crise financeira do país. “Eles nos procuraram para fazer a intermediação porque não têm dinheiro para pagar o aluguel da piscina”, diz ele, que usava a piscina para organizar competições infantis de natação.
De acordo com o secretário de Esportes, as aulas públicas de natação na piscina olímpica foram suspensas em janeiro devido ao atraso na contratação de 19 salva-vidas e de empresa para fazer a manutenção da piscina.
O edital de licitação foi suspenso pelo Tribunal de Contas do Estado, que questionou o fato de o estado ter organizado em apenas um certame o chamamento para contratar os salva-vidas e a empresa que fará a limpeza da piscina, segundo o secretário.
“Já resolvemos isso e a licitação será publicada nesta quinta-feira (30) no Diário Oficial”, diz. “A reabertura da piscina deve ocorrer em 15 ou 20 dias, temos pressa em atender esse público”, completa.
Akio diz que, parada, a piscina iria virar um criadouro de mosquitos transmissores da dengue. “Natação é um esporte caro e não há muitos lugares para praticar”, diz.
No final de 2013, o conjunto aquático foi reinaugurado após reforma que custou pelo menos R$ 30 milhões. Quase dois anos depois, porém, as instalações voltaram a apresentar problemas de manutenção, como rachaduras nos azulejos e bordas danificadas.
PROJETO DE CONCESSÃO
O complexo esportivo Constâncio Vaz Guimarães, onde está localizada a piscina e o ginásio do Ibirapuera, tem projeto para ser concedido à iniciativa privada desde 2017. Ao menos seis empresas devem disputar a concessão que irá durar 35 anos e custar R$ 220 milhões.
O governador João Doria (PSDB) anunciou a concessão no fim de março, quando prometeu o lançamento do edital para outubro deste ano.
Antes disso, o projeto de lei que irá regulamentar a concessão deve ser aprovado pela Assembleia Legislativa. O texto chegou a ser discutido durante sessão plenária na Alesp nesta terça-feira (28), mas não foi votado.
A estrutura tem orçamento anual de R$ 18 milhões e é formada pelo Ginásio do Ibirapuera, outro ginásio poliesportivo, um estádio, o conjunto aquático, o Palácio do Judô, alojamentos, três quadras de tênis e estacionamento.
No local funciona o programa Centro de Excelência, que recebe atletas de judô, atletismo, natação e voleibol de todo estado em regime de internato desde 1984.
Entre as exigências para conceder o complexo à empresa vencedora da concorrência, está a construção de uma arena multiuso com capacidade para receber 20 mil pessoas.
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