Publicado em 24/02/2022 às 9h40
via Agência Mural
Para o educador Reginaldo Vitalino de Lima Filho, de 47 anos, a implementação do novo ensino médio em escolas públicas e privadas tem gerado a sensação de “estar trocando a roda do carro com ele em movimento”. O professor dá aulas de história, filosofia e sociologia há 15 anos. Na rede estadual, leciona no ensino médio regular e no EJA na escola Jornalista Carlos Frederico Werneck Lacerda, em Pirituba, zona noroeste da cidade, distrito onde mora.
Para ele, a reforma está sendo inserida em uma estrutura que é “reconhecidamente problemática”. “O governo implantou um projeto em uma escola que já carecia de uma reforma estrutural para se adequar ao projeto anterior”, diz. “Não se resolveu o problema de infraestrutura das escolas e a precarização dos equipamentos públicos, inclusive, em relação [ao acesso] à internet”, complementa o educador.
Do ponto de vista do professor Régis, faltou diálogo com os professores, alunos e toda a comunidade escolar na elaboração do novo modelo, o que dificulta a inserção. “A escola não está preparada; professores e alunos estão perdidos. Não sabemos o que fazer com as novas disciplinas”, relata o educador. Ele acrescenta que o governo ainda está enviando informações sobre o projeto e aponta que faltam professores, materiais e infraestrutura nas instituições de ensino. Para o educador, diante de todo esse cenário, o maior prejudicado é o aluno, sobretudo, quem mora e estuda na periferia.
“O novo currículo vai aumentar ainda mais as desigualdades. Ele retira o conhecimento essencial para a formação humanista e científica do aluno com essa nova ideia de que é preciso prepará-lo minimamente para o mercado de trabalho, que hoje é bastante complexo.”
Novo modelo
A principal mudança é a nova organização do currículo, que, além da BNCC (Base Nacional Comum Curricular), oferece itinerários formativos aos estudantes, escolhidos para completar a grade curricular. Além disso, as disciplinas básicas, como Português, Matemática e Geografia, foram integradas em quatro áreas de conhecimento: Ciências Humanas e Sociais Aplicadas; Linguagens e suas Tecnologias; Ciências da Natureza e suas Tecnologias; e Matemática e suas Tecnologias.
Em tese, os jovens podem optar por itinerários nas quatro áreas de conhecimento, na formação técnica e profissional, ou escolher um modelo integrado, que combine mais de uma área. As escolas, por sua vez, têm autonomia para definir quais itinerários formativos ofertar, mas devem dispor de, no mínimo, dois aprofundamentos curriculares, contemplando todas as áreas do conhecimento ou formação técnica e profissional.
Novo ensino médio em SP
No Estado de São Paulo, a inserção do novo currículo foi antecipada em 2021 por meio do programa Inova Educação. Assim, o modelo chegou aos mais de 450 mil alunos matriculados no 1º ano em mais de 3,6 mil escolas estaduais. Neste ano, as turmas do 2º período já estão imersas no processo, totalizando 900 mil alunos atingidos pela reforma.
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