Publicado às 9h55
Folha de SP
“Os Titãs voltaram a ser oito!”, brinca o guitarrista Tony Bellotto enquanto posa para a foto com o elenco do novo trabalho da banda.
Com 36 anos de estrada, o grupo agora prepara uma ópera-rock, intitulada “Doze Flores Amarelas”. Reúne no palco seus três remanescentes originais — Bellotto, Branco Mello e Sérgio Britto — mais o baterista Mario Fabre, o guitarrista Beto Lee e três cantoras.
A produção terá uma pré-estreia nos dias 3 e 4 de abril, no Festival de Teatro de Curitiba. Depois faz quatro sessões no Sesc Pinheiros, em São Paulo, a partir do dia 12.
É um projeto que surgiu há cerca de dois anos, quando a banda tentava experimentar novos formatos. “Temos o hábito de valorizar canções com um sentido mais aberto”, diz Britto. “Achamos que contar uma história por meio de canções seria um processo rico para nós como compositores.”
Trabalharam o argumento junto ao diretor e dramaturgo Hugo Possolo e ao escritor Marcelo Rubens Paiva, chegando ao tema do assédio e como ele se dissemina no mundo tecnológico.
“A tecnologia está tão presente hoje nas nossas vidas, e achamos que essa questão traria uma ligação mais contemporânea para a história”, afirma Possolo, que divide a direção de “Doze Flores Amarelas” com Otavio Juliano.
A dramaturgia foi tecida a partir das 25 músicas inéditas dos Titãs (com colaborações de Fabre e Lee), então “uma demo em voz e violão, que é bem difícil de escutar, a gente reconhece”, diz Britto.
CANÇÕES
Quase não há falas no espetáculo, exceto por alguns diálogos em off e uma narração gravada por Rita Lee. Esta por vezes é acompanhada de arranjos instrumentais assinados por Jaques Morelenbaum.
Tudo é contado por meio das músicas, como “Nada Mais Basta”, que abre o trabalho: “Atrás dessa menina/ Tem um homem atrás de outro nome/ Que diz te entender/ Atrás dessa janela/ Um pouco dela, uma mulher sincera/ Que quer te conhecer”.
“Doze Flores” acompanha três Marias (interpretadas por Corina Sabba, Cyntia Mendes e Yás Werneck) que fazem uso de um aplicativo da moda, chamado Facilitador —espécie de oráculo que diz aos jovens como devem agir.
Numa festa, acabam sofrendo estupro e decidem se vingar usando o feitiço (também sugestão do aplicativo) das 12 flores amarelas.
Cada uma das garotas toma um caminho, mas o desfecho aponta para a denúncia delas sobre o abuso. Uma forma, conta Britto, de a banda se posicionar sobre o tema.
A tecnologia também é refletida no cenário, composto basicamente de projeções, que criam diversos ambientes, dos quartos das Marias à festa em que são violentadas.
EXPERIMENTO
“Eu sinto que a gente está tateando uma nova linguagem, que mistura show, teatro e cinema”, comenta Branco. “E tem um pouco aquela ideia dos anos 1960, quando os shows de rock eram apresentados em teatro.”
O formato foi sendo experimentado numa temporada de shows que a banda fez ao longo do ano passado, chamada “Uma Noite no Teatro”.
Ali já flertavam com a encenação teatral e incluíram no repertório, além de sucessos dos Titãs, três músicas da ópera-rock: “Me Estuprem”, “A Festa” e a homônima “Doze Flores Amarelas”.
As três ainda foram tocadas no último Rock in Rio, em setembro, mas num formato próximo dos shows tradicionais dos Titãs.
ATITUDE
No teatro, a banda deixa um pouco de lado a performance roqueira. “A gente tem que ser contido. É muito difícil, porque geralmente temos outro tipo de atitude no palco”, diz Britto. “A nossa atitude aqui muda muita para a de um show, em que você fala com a plateia, joga uma palheta”, continua Bellotto.
Mas a banda já tem gravado e quer lançar futuramente um disco do trabalho (que eventualmente pode ter canções apresentadas em shows). Ainda pretende gravar um DVD durante uma das sessões.
“Algumas das óperas-rock mais famosas, como ‘Tommy’ [do The Who] e ‘The Wall’ [Pink Floyd], foram lançadas antes em disco. Nós estamos fazendo o caminho contrário, primeiro encenando”, diz Britto.
Depois de Curitiba —onde a banda fará um ensaio aberto, no primeiro dia (quando pretendem testar algumas questões técnicas, podendo parar a sessão caso necessário), e uma pré-estreia no segundo— e São Paulo, a banda deve levar “Doze Flores Amarelas” para mais outra dezena de capitais brasileiras.
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