Publicado às 9h30
Agência Estado
A Barra Funda, na zona oeste de São Paulo, é um bairro de raízes industriais e operárias que, a cada ano que passa, tem adicionado uma nova iguaria à marmita. Com os aluguéis caros e a saturação de lugares como Pinheiros e a Vila Madalena, a cena cultural, rock n’ roll e “gourmet sem frescura” está se deslocando para esse ponto da cidade, para perto da linha do trem e a poucos quilômetros do centro. “É a primeira periferia do centro”, diz um dos sócios do bar A Dama e os Vagabundos, Raul Fiuza.
Não é de hoje que a Barra Funda vem ensaiando uma guinada. Como lembra o professor de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie Valter Caldana, a região passa por um processo natural de reconversão. “A ocupação histórica industrial deixou muitos terrenos vazios. Além disso, trata-se de uma localização privilegiada, com uma estrutura subutilizada.”
Com tantos atrativos, em 2004, ainda na gestão Marta Suplicy, uma ação batizada de Bairro Novo realizou um concurso para revitalizar o bairro. O projeto vencedor imaginava um local de calçadas largas, arborizado, com prédios baixos e uma distribuição que lembrava Brasília. A ideia nunca saiu do papel – sendo abandonada nas gestões José Serra e Gilberto Kassab. Além disso, operações urbanas de revitalização do bairro são anunciadas quase anualmente. Mas pouco sai.

Ainda assim, mesmo à revelia do poder público, a Barra Funda está acontecendo. Desde 2013, o bairro é o quinto com mais lançamentos imobiliários (ficando atrás só de Itaquera, Pirituba, Campo Limpo e Butantã). A maioria desses empreendimentos é de custo consideravelmente mais baixo do que o do entorno, como em Perdizes (o preço médio do metro quadrado da Barra Funda é R$ 10.113; já em Perdizes, sai em média R$14.075).
São lançamentos populares, com valores de até R$ 200 mil”, explica Coriolano Lacerda, coordenador de inteligência do mercado do Grupo Zap. A consequência é atrair público mais jovem, de recém-casados ou de gente que compra seu primeiro imóvel. Ou seja, o bairro ganhou pulso e uma frequência de pessoas que querem descobrir e aproveitar a vida ao redor.
Lugares
Há aproximadamente três anos, o chef Paulo Shin inaugurou o restaurante coreano Komah. Hoje, o local já é referência na cidade e reconhecido com prêmios da mídia especializada. Não é difícil precisar chegar cedo ou encarar uma espera para experimentar os pratos de Shin. “Foi mais seguro financeiramente vir para cá. Era uma diferença que representava um ano e meio de fluxo de caixa vindo pra Barra Funda contra um mês de Pinheiros”, conta. “O Komah é fenômeno que não planejamos. Foi no boca a boca.”

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