Publicado em 17/02, às 10h50
Por Priscila Perez
Apesar da cidade ter ficado debaixo d’água na última semana, o prefeito Bruno Covas destacou que “nenhum piscinão transbordou” durante o dilúvio. Com o êxito, a Prefeitura de São Paulo está empenhada em consolidar uma nova PPP (Parceria Público-Privada), que transfere os cinco reservatórios existentes à iniciativa privada, prevendo ainda a construção de outros quatro equipamentos em diversos pontos da capital, como Perdizes e Lapa.
No último sábado, 15 de fevereiro, o prefeito cravou que o edital de concessão será divulgado ainda em fevereiro com uma notícia vantajosa para os interessados: o direito de explorar comercialmente a área sobre o piscinão. Conhecido como “direito de laje”, este artifício é uma novidade recém-inserida na legislação municipal. Até então, só era possível construir prédios públicos nesses locais: um exemplo disto é o piscinão do Pacaembu, que fica sob a praça Charles Miller. “Antes você não podia construir em cima. Só podia ter prédios públicos, como por exemplo o estádio do Pacaembu”, exemplifica Covas. “Não é nenhuma novidade da engenharia. Nunca houve problema com o Pacaembu.”

Quem vencer a licitação ficará encarregado da requalificação, operação, manutenção e conservação dos piscinões Anhanguera, Guaraú, Sharp e Rincão. Os cinco novos reservatórios previstos pela Gestão Covas são: Verde (Itaquera), Moinho Velho 1 (Ipiranga), Praça Portugal (Cerqueira César), Praça São Crispim (Lapa) e Praça Rio dos Campos (Perdizes).
Polêmica na Lapa
O piscinão até pode ser uma solução mais imediata contra as chuvas, mas está longe de ser a mais sustentável. Para a gestora socioambiental Annabella Andrade, representante do Movimento pela São Crispim, são necessárias obras de drenagem mais sustentáveis. “Desejamos fervorosamente resgatar, preservar e manter os poucos espaços verdes, os recursos hídricos e as águas subterrâneas da nossa cidade.”
No caso do futuro piscinão da Lapa, a novidade exaltada pela Prefeitura divide opiniões, já que o equipamento seria instalado numa área verde da região: a Praça São Crispim, um espaço arborizado localizado entre a Rua Tito e a Avenida Ricardo Medina Filho, com playground, pontos de ônibus e entorno residencial. Indignada com a decisão da Prefeitura, a comunidade lapeana se mobilizou pela preservação da área desde o famigerado anúncio da PPP, em 2019. De lá para cá, realizaram abaixo-assinado contra o piscinão e criaram uma página no Facebook em torno do Movimento pela Preservação da São Crispim.

A população critica a falta de debate em torno do tema – delicadíssimo para a região. Apenas uma audiência pública foi realizada pela Siurb (Secretaria Municipal de Serviços e Obras) para apresentar a proposta à população. Outro encontro está previsto para março deste ano.
Fica a pergunta: será que o piscinão é a melhor saída contra as enchentes? Com certeza, é a mais imediata. Para o arquiteto e urbanista Pedro Henrique Herculano Correia, que também é pesquisador no Lab Itaim da Universidade São Judas, “apesar dos problemas enfrentados a cada verão, o poder público ainda insiste nessas obras gigantescas que, à primeira vista, são baratas e emergenciais, mas saem caro aos cofres municipais. “Hoje em dia, temos muitas alternativas para drenagem em diversas escalas, de jardins filtrantes a biocanaletas. Essa infraestrutura pode resolver as questões de drenagem, como também melhorar a qualidade da água dos rios e prover mais áreas verdes e espaços de lazer para a população.”

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