Publicado em 18/03, às 10h45
Por Cristina Braga
Há 11 anos, a expectativa dos moradores de Pirituba e região era de que o Casarão do Anastácio, construção imponente de quem o avista pela Rodovia Anhanguera e Marginal do Tietê, fosse transformado em um Centro Cultural do bairro. Transcorridos 12 anos, nada ocorreu. O espaço cultural não se concretizou, e o Casarão se deteriorou ainda mais com infiltrações e perda de parte do telhado. Um descaso com a história e a memória cultural de um imóvel de estilo neocolonial hispânico, datado de 1920, que até hoje evoca curiosidade e sonho por parte dos moradores de Pirituba, que anseiam em vê-lo restaurado.
Em 2008, após Audiência Pública na Casa de Nassau sobre o futuro dos 180 mil metros quadrados do terreno onde o imóvel centenário está inserido, a incorporadora Tishman Speyer, que adquiriu a área um ano antes, anunciava um megainvestimento de R$ 500 milhões no local prevendo a construção de um shopping center com cerca de 30 mil metros de ABL (área bruta locável), complexo residencial com 14 prédios e a transformação do Casarão do Anastácio no primeiro centro cultural do bairro. “Será um salto de qualidade para o desenvolvimento cultural da região,” previam os analistas à época. “A população concordou com a construção dos prédios e do shopping”, dizia a Prefeitura.
Placas no terreno do casarão
Há pouco mais de dois meses, três grandes placas foram colocadas no terreno pela construtora EZTEC anunciando um empreendimento imobiliário de dois a quatro dormitórios. Daí vem a pergunta: o que será feito do casarão? Questionamos a empresa, e até o fechamento desta edição (15 de março) não obtivemos resposta. Já a Secretaria Municipal de Cultura, através do Departamento do Patrimônio Histórico (DPH), informou que o Casarão do Anastácio, tombado pela resolução 02/Conpresp/2013, tem estabelecido um polígono de 40 metros como área envoltória, a permanecer sem novas edificações. “A comunidade continua de olho”, reitera Edson Domingues, sociólogo que propôs o tombamento do imóvel.
Ainda segundo o DPH, para a área em questão, “há um projeto de construção e restauro aprovado pela 613ª Reunião do Conpresp (Conselho de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental de São Paulo), em 2015, conforme disponível no processo administrativo 2012-0.128.639-1. Nele, além da construção de oito torres residenciais e comerciais, são previstas ações de paisagismo e de restauro do casarão, “respeitando as diretrizes determinadas pela resolução de tombamento”. Diante disso, os moradores esperam que a preservação do imóvel não se torne apenas uma miragem, ficando ao longe, como já acontece com o casarão, cujo terreno um dia pertenceu ao coronel Anastácio, em 1823.
Histórico
O primeiro dono do terreno foi o coronel Anastácio de Freitas Trancoso, membro do Governo Provisório de São Paulo, em 1823. Posteriormente, em 1856, o local foi vendido ao brigadeiro Tobias de Aguiar e à sua mulher, a Marquesa de Santos. Com a morte de Tobias, a marquesa se tornou a única proprietária, mantendo a terra até a sua morte, em 1867. Nos anos seguintes, seus herdeiros venderam uma parte do terreno para a Light and Power, empresa canadense que desenvolvia atividades de geração e distribuição de energia elétrica; e o restante foi vendido em 1917 à Companhia Armour do Brasil. Com isso, uma antiga casa da fazenda, construída em taipa de pilão, foi demolida. O atual casarão foi construído pela Companhia Armour do Brasil para abrigar os funcionários do seu frigorífico, em 1920. Já em 2007, o terreno foi adquirido pela Companhia Tishman Speyer.
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