Publicado em 21/10, às 9h40
Por Priscila Perez
Um funcionário público aposentado, de 62 anos, morador de Belo Horizonte, tinha o pior prognóstico possível: viveria apenas mais um ano. Diante disso, quem imaginaria que seu linfoma em fase terminal, que já não respondia mais a tratamentos convencionais, entraria em remissão total? Pois é, esse foi o resultado obtido em uma pesquisa inédita na América Latina, ainda em fase experimental, realizada por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), em Ribeirão Preto, com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Para Vamberto Castro, foi seu último recurso, mas valeu a pena.
Após a terapia celular com CAR-T (células T modificadas em laboratório), a qual já é adotada em países como os Estados Unidos, não foram encontradas células cancerígenas, mas ainda é muito cedo para se falar em cura. Se nos próximos cinco anos não surgirem indícios de câncer, aí sim, o paciente estará livre da doença. “Neste momento, não há manifestação da doença. Ele era cheio de nódulos linfáticos pelo corpo. Sumiram todos. Ele tinha uma dor intratável, dependia de morfina todo dia. É uma história milagrosa e com final muito feliz”, celebrou Dimas Tadeu Covas, diretor do Instituto Butantan e um dos integrantes da equipe.
Tratamento inovador contra o câncer
Nessa terapia, os linfócitos T (um tipo de célula do sistema imunológico) foram coletados do sangue do próprio paciente e alterados em laboratório para que reconhecessem e atacassem as células cancerígenas ou tumorais. Depois de cultivados e multiplicados, eles foram injetados de volta ao corpo dele por meio de infusão. “As células T modificadas passaram a se multiplicar aos milhões no organismo do paciente, fazendo com que o sistema imune deste passasse a identificar as células tumorais do linfoma como inimigos a serem atacados e destruídos”, explica o médico hematologista Renato Cunha, pesquisador associado do Centro de Terapia Celular da USP.
O paciente, que mal conseguia levantar da cama, em quatro dias depois de passar pelo tratamento já não sentia mais dores, em uma semana voltou a andar e, vinte dias depois, os exames não detectaram células cancerígenas. Se tudo correr bem, a pesquisa pode resultar em um grande benefício para os pacientes do SUS (Sistema Único de Saúde), que passarão a contar com o tratamento. “Nós temos vários avanços. Primeiro, o avanço científico – nós conseguimos fugir das grandes companhias, das patentes das multinacionais, porque isso é um desenvolvimento próprio, brasileiro. Segundo, isso é feito dentro de um instituto público – é um tratamento destinado aos pacientes do setor público, do SUS”, conclui Dimas Covas.
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