COTIDIANO

40% das ciclovias de São Paulo têm condição ruim de manutenção, diz estudo

Levantamento do Ciclocidade avaliou ao todo 19 itens, entre pintura, qualidade do pavimento, iluminação e sinalização vertical

Publicado às 9h35

Agência Estado

Uma auditoria da Associação dos Ciclistas Urbanos de São Paulo (Ciclocidade) avaliou que 40% da rede cicloviária da capital paulista está com qualidade ruim de manutenção, com pintura desgastada ou apagada, buracos na via e sinalização ruim.

O levantamento foi realizado entre setembro e outubro. Ao todo, 19 critérios foram analisados para avaliar a situação de 257 vias entre ciclovias, ciclofaixas, ciclorrotas, calçadas partilhadas e calçadas compartilhadas.

Por manutenção, o estudo considerou principalmente a pintura (inadequada ou desgastada), mas também elementos

como qualidade do pavimento – por exemplo, se tem buracos -, além de sinalização, como placas.

“A pintura apagada denota abandono da infraestrutura e pode estimular a invasão desta por motoristas que entendam que ela não funciona mais. Avalia-se se a tinta está em bom estado, apagada em alguns pontos, ou completamente apagada”, avalia o levantamento. Os detalhes do mapa podem ser acessados no site da Mobilidade Ativa, criado pela Ciclocidade.

Os itens mais mal avaliados foram sinalização vertical, pintura, sinalização nos cruzamentos e indicação de pictogramas (desenho ou pintura de bicicleta na via). Sombra na estrutura e largura da via também foram avaliadas negativamente.

Entre as ciclovias mais mal avaliadas na região central de São Paulo em relação à manutenção, está um trecho de 120 metros na Rua da Consolação (onde a ciclovia percorre o canteiro central), além da Alameda Cleveland e da Praça Julio Prestes.

As zonas leste e sul também apresentaram vias com avaliações negativas, como a ciclofaixa da Avenida Professor Alipio de Barros, no Jardim Helenda, em São Miguel Paulista. Na zona sul, as ciclovias da Avenida Atlântica próximo ao Parque Guarapiranga também tiveram avaliação ruim em relação à manutenção.

A qualidade do tipo de pavimento  – concreto, paralelepípedo ou asfalto – e os obstáculos como raízes de árvores, por exemplo, foram os mais bem avaliados. Tiveram notas boas vias da zona oeste da capital, como as avenidas Brigadeiro Faria Lima e Helio Pellegrino.

No estudo, a Ciclocidade criou o Índice de Desenvolvimento Cicloviário (IDECiclo), um cálculo que avalia a estrutura da rede cicloviária. Ciclofaixas e ciclovias receberam nota média de 7. As calçadas partilhadas e compartilhada: 6,5 e 6,4, respectivamente. A nota mais baixa foi de ciclorrota, avaliada com média de 6,2.

A auditoria considerou que a rede cicloviária de São Paulo possui 484,8 km de extensão, com ciclovias (137km), ciclofaixas (306km), calçadas partilhadas (16km) e ciclorrotas (1km). No levantamento, foi possível avaliar 480,1 km de infraestrutura na cidade, pois 4,7 km são trechos que não possuem sinalização porque não foram implantados ou porque os trechos foram retirados parcial ou totalmente, descaracterizando a infraestrutura cicloviária.

Coordenadora técnica do projeto, Suzana Nogueira diz que o resultado positivo de algumas estruturas analisadas foi uma surpresa. Um exemplo foi a avaliação sobre obstáculos na via. “Imaginava que fosse pior. A condição do pavimento foi bem avaliada. Vários pavimentos são avaliados com condição boa. Mas a sinalização horizontal e a pintura estão muito ruins. Muitas pinturas estão praticamente apagadas, com elementos de segregação retirados”, explica Suzana. Em vias segregadas para pedestres, são considerados elementos de segregação a pintura branca com tachão e tachinhas, por exemplo.

Segundo ela, uma das conclusões do levantamento é que problemas estruturais como pintura já poderiam ser resolvidos pela Prefeitura sem a necessidade de realização de obra no pavimento.

A Secretaria Municipal de Mobilidade e Transportes e a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) disseram que aguardam a publicação do estudo do Ideciclo para poder analisar o resultado.

A gestão do prefeito Bruno Covas informou ainda que já executou a manutenção de 42 quilômetros de infraestrutura cicloviária em vias por onde passaram o programa Asfalto Novo.

“Em janeiro de 2019, a CET irá iniciar o trabalho de manutenção corretiva em 9 quilômetros das ciclovias do Bom Retiro, Pari, av. Sumaré e viaduto do Chá. Para todas as manutenções são desenvolvidos projetos com um novo padrão de sinalização”, disse a Prefeitura.

Foto: Werther Santana/Estadão

​Índice de Desenvolvimento Cicloviário

Belo Horizonte e Brasília também estão avaliando suas estruturas cicloviárias com base no índice. O objetivo é criar uma avaliação nacional, que possa ser aplicada em todo o território brasileiro.

“O Ideciclo avalia como está a infraestrutura existente e qual é o parâmetro ideal para o total da cidade. No cálculo, fazemos a avaliação do porcentual da infraestrutura de acordo com a classificação viária. Toda via de trânsito rápido e arterial precisa ter infraestrutura cicloviária segregada, ou seja, civlovia, em boas condições. E toda via coletora também tem que ter segregação com ciclofaixa. Todas as vias locais teriam de ter medidas de acalmamento de tráfego”, explica Suzana. “Quando atinge 0,107 percebemos que temos medidas que favorecem a circulação de bicicletas, mas ainda são muito pequenas perto do que deveria ser na dimensão da cidade.”

Em São Paulo, o cálculo do IDECiclo – que varia de 0 a 1 – resulta em 0,107. Comparado com Recife, levantado em 2016, que possui índice de 0,059, o levantamento conclui que a capital paulista registra “uma melhor condição de infraestrutura distribuída na malha viária”. A Ciclocidade alerta, entretanto, “que faltam muitas ações para alcançar uma condição adequada e segura para a circulação dos ciclistas”.

Suzana afirma que, na prática, se São Paulo tem 0,1, é porque a cidade possui “condição ainda ruim”. “Quanto mais a hierarquização viária é maior na cidade, melhor é a pontuação”, diz.

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