EDUCAÇÃO

Documentário sobre eleição de grêmio estudantil mostra reflexos da política nacional e das lutas sociais na escola

Longa mostra como estudantes se articulam para criar propostas, debater e propor melhorias para a escola, mesmo com visões de mundo diferentes. Gravações entraram no programa pedagógico da escola

Publicado às 11h50

G1 São Paulo

A votação para a escolha do grêmio estudantil de uma escola n de São Paulo é foco do documentário “Eleição”, dirigido pela cineasta Alice Riff. O longa mostra como quatro grupos de estudantes se articulam para criar propostas, debater e propor melhorias para a escola, mesmo com visões de mundo diferentes. O longa estreia nesta quinta (14) e já tem salas confirmadas em São Paulo, Rio, Belo Horizonte, Porto Alegre e Curitiba. (Assista ao trailer ao fim da reportagem)

As gravações ocorreram em paralelo ao processo eleitoral de 2018. Além do aprendizado político, o projeto foi construído pedagogicamente com professores, integrando oficinas de teatro, cartazes e até jornalismo.

“Na eleição, como o papel da mídia é importante, nós incentivamos que eles fizessem um jornal na escola. Fizemos oficina de jornalismo e o processo eleitoral teve cobertura. Tudo isso está no filme”, conta Riff.

Segundo a cineasta, a ideia surgiu quando ela começou a observar o crescente desinteresse de adolescentes por política – o último pleito, por exemplo, teve a menor participação de jovens com direito a voto facultativo (com idades entre 16 e 17 anos) desde 2002.

Estudantes fazem cartazes para divulgar chapa que concorre ao grêmio estudantil de uma escola da Zona Oeste de SP, retratada no documentário ‘Eleição’, de Alice Riff. Foto: Divulgação

Ela, então, passou a refletir sobre o que estes jovens, nascidos após dos anos 2000 com a democracia já estabelecida, achavam deste tipo de governo. O que ela descobriu é que eles têm reivindicações parecidas com as da sociedade, dentro de um contexto estudantil.

As chapas participantes, por exemplo, refletiam os grupos sociais. “Quando comecei a pensar o filme, achei que a discussão de esquerda e direita não estaria lá, mas teve. Assim como também teve chapa feminista, LGBT, chapa do fundão”, diz.

O processo também envolveu aprendizado: uma das chapas adotou o número ’32’ como identidade porque este é o ano em que as mulheres passaram a ter voto no Brasil.

Este é o segundo longa da cineasta. Antes, Riff dirigiu ‘Meu corpo é político’ e diversos curtas-metragens. O filme foi produzido por meio do Edital Videocamp de Filmes – Edição 2017, iniciativa da plataforma Videocamp e patrocinado pela Coca-Cola Brasil.

Estudante prepara faixa de divulgação da chapa ’32’, na eleição do grêmio estudantil de uma escola de SP, em cena do documentário ‘Eleição’, de Alice Riff. Foto: Divulgação

Confira abaixo a entrevista que Alice Riff deu ao G1:

Como surgiu a ideia de documentar a votação do grêmio?

“Nas últimas eleições, saíram dados que chamaram a atenção em relação à desconexão do jovem com a política. São altas as porcentagens de jovens votando nulo e branco, que não vêm a diferença entre esquerda e direita, que não se vêm representados em partidos políticos. Comecei a refletir sobre isso: o que jovens que nasceram após os anos 2000, com a democracia dada, pensam sobre ela. Pensei em estar em um ano eleitoral, dentro de uma escola, acompanhando uma eleição cujos protagonistas são jovens, negros, negras, a comunidade LGBT. Uma eleição 100% protagonizada por quem está fora do Congresso Nacional.”

Por que essa escola? Como foi o processo de gravação?

“A Secretaria Estadual de Educação autorizou e disse nós precisaríamos contatar a escola. Nós fizemos isso e a Escola Estadual Doutor Alarico Silveira abraçou a ideia. Ela fica no bairro da Barra Funda em São Paulo e tem 500 alunos. Nós acompanhamos as turmas do período da manhã, do ensino médio, por três meses. O projeto do filme entrou no currículo da escola. Ele foi construído pedagogicamente, com professores participando. Oferecemos oficinas de teatro, na época dos cartazes para a eleição nós também fizemos oficina. E, como na eleição o papel da mídia é importante, nós incentivamos e houve uma oficina de jornalismo. Um grupo de alunos se interessou e fez a cobertura da eleição. Tudo isso está no filme.”

Quais eram as principais reivindicações dos estudantes?

“Uma pesquisa de 2015 feita pelo MEC mostra que 50% dos alunos do ensino médio evadem da escola pública. Os que ficam dizem que o que é mais importante é o clima escolar, a relação social. A maioria das reivindicações são preocupações sobre isso, sobre a escola ter vida: tanto discutindo pautas como feminismo, homofobia, lgbtqfobia, bullying. Eles identificaram que muitos estudantes sobrem bullying e queriam promover palestras e conversas na escola. Pediram torneios de esporte, música no intervalo. Tudo para dar vida para a escola e atrair mais alunos.”

Quais pontos da política nacional foram vistos também nesta eleição?

“O filme faz referências o tempo todo à política nacional. A escola está no mundo. Quando comecei a pensar o filme, achei que a discussão de esquerda e direita não estaria lá, mas teve. Assim como também teve chapa feminista, LGBT, chapa do fundão. Você vê no filme alguma imaturidade política que também tem na discussão nacional. Por exemplo: uma chapa falou que não faria nenhuma proposta, porque político faz proposta e não cumpre, então dizia: ‘Vota em mim porque estou sendo honesto’. E a gente vê na votação nacional este discurso se repetindo.”

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