Publicado em 09/03/2021 às 09h30
Por Redação/ Ira Romão (Agência Mural)
Em meados de 2018, seis moradoras da periferia de São Paulo criaram o Coletivo de Mulheres da Noroeste com o objetivo de unir forças para combater as crescentes situações de violência vivenciadas por mulheres, sobretudo, nos distritos do Jaraguá, Brasilândia e Cachoeirinha.
Envolvidas em diversas frentes como educação, moradia e meio ambiente, elas decidiram se juntar para pensar como acolher e respaldar mulheres vítimas de violência.
“No início, a gente discutia sobre machismo, condições na sociedade até dentro dos próprios movimentos. Mas também pensando em propostas com foco no que poderíamos fazer de diferente na região para melhorar a situação da vida das mulheres”, conta a cientista social Maria Clara Ferreira, 28, uma das integrantes do coletivo.
Por atuarem em vários movimentos sociais, naturalmente, elas são procuradas por outras mulheres e por quem conhece histórias de vítimas de violência, seja física, sexual, psicológica, moral e/ou patrimonial.
“É um passo muito difícil para as mulheres [vítimas de violência] conseguir perceber que precisam de ajuda. Porque muitas vezes a gente naturaliza tanto que acha que tem que suportar, não conter e não pedir ajuda”, diz Clara.
De acordo com o Mapa da Desigualdade da Rede Nossa São Paulo, entre os anos de 2016 e 2019 a violência contra a mulher cresceu 64% na capital paulista, passando de mais de 50 mil vítimas de violência para mais de 83 mil. No mesmo triênio, o número de casos de feminicídio aumentou 72%.
A pesquisa divulgada em outubro passado mostra ainda que a menor taxa de violência contra a mulher registrada na cidade de São Paulo foi no extremo sul, no distrito de Marsilac, com 114,4 registros a cada 10 mil habitantes, enquanto a maior foi registrada na Sé, região central, com 865,4 ocorrências.
Entre os distritos com mais e menos registros de violência contra a mulher, a diferença chega a ser de 7,6 vezes. A média na capital é de 228,1 registros a cada 10 mil habitantes. Nos distritos da região noroeste a taxa de casos varia de 147,4 até 274,9.
A dificuldade no atendimento é vista desde o momento de denunciar uma violência sofrida em casa. Em 2019, no Dia Internacional de Luta Contra a Violência à Mulher, elas reuniram mulheres em frente à delegacia da mulher, na Avenida Itaberaba, na Freguesia do Ó, para chamar a atenção sobre o atendimento desumanizado às vítimas.
“O sentido não era denunciar a delegacia em si, mas chamar atenção para essa estrutura, toda precária, do atendimento [às vítimas] que é difícil. É uma violência que não encaminha para nada”, expõe Maria Clara.
Foto: Divulgação Agência Mural
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