Publicado em 16/12, às 10h
Por Cristina Braga
Quem vê o catador de material reciclável com seu carrinho de madeira pelos bairros de Pirituba e Jaraguá, pinçando objetos descartados nas ruas da região com seu sorriso aparente, não imagina como como Luís Eduardo Pereira trilhou esse caminho. Do alto de seus 39 anos, Lafon – como também é conhecido – puxa seu carrinho de madeira há pelo menos uma década. Começou bem cedo porque não encontrava emprego.
Morador da periferia da cidade de Caieiras, entendeu que ser catador era a única maneira de ganhar dinheiro para a sua sobrevivência. “A pessoa precisa ter perseverança e pensar positivo porque enfrentamos obstáculos, e vai de cada um saber agir, sempre com os pés no chão. Depois que comecei a juntar um dinheirinho, tive o sonho e a ambição de tirar minha carteira de habilitação e cursar nível superior para dar uma guinada, arrumar trabalho e elevar a condição financeira”, explica.
Lafon sempre procurou outra atividade paralela à reciclagem para conseguir se manter financeiramente. “Odeio pendurar conta. Muitas vezes, arrumei emprego com carteira assinada, mas nunca larguei a reciclagem. É assim que mantenho a mente ocupada e a dignidade em cima”, conta com voz firme. Abraçando a ideia de não largar os estudos, o catador realizou cursos de idiomas nos últimos doze anos. “Fiz espanhol e inglês com, pelo menos, três interrupções, mas consegui finalizar”, emenda.
Sobrevivência e sonhos
Segundo ele, é possível tirar uma média de R$ 60 por dia com a venda de latinhas. “Varia muito”, complementa Claudinei dos Santos Moreira Gomes, parceiro de Lafon e dono do posto para o qual vende os materiais. Ambicioso, o catador aprendeu com Claudinei a se organizar, tanto que se formou em Letras na Faculdade e ainda sonha em comprar um carro e uma moto – andando oito horas por dia, a semana inteira.
Claudinei tinha 15 anos quando atendeu ao chamado do pai para ajudá-lo numa oficina mecânica instalada há 45 anos no Jardim Líbano, que depois se tornou ferro-velho e agora é um posto de reciclagem, pelo esforço dele próprio há 17 anos. “ Eu tinha outras escolhas profissionais na vida, mas escolhi a reciclagem trabalhando de sol a sol, sem feriado, sem tempo para nada, retirando das casas todo tipo de material que possa ser reciclado”, comenta.
Gomes faz as contas de quanto o negócio consegue angariar por mês: “são dez toneladas de plástico, quarenta toneladas de sucata (ferro), dois mil quilos de latinhas, em média, sem contar o que as pessoas trazem para a gente. Compramos, fazemos a triagem e revendemos; trabalho hoje com dez funcionários.” O desejo dele é formar uma cooperativa; e Lafon, além da moto, já engatou num outro idioma e está aprendendo alemão.
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