Publicado às 9h
Folha de SP
Meios-fios de três capitais brasileiras, São Paulo, Rio e Recife, estão recebendo intervenções de grafiteiros renomados com o intuito de chamar a atenção do quanto uma calçada sem rampa pode significar um “muro” para cadeirantes, pessoas com mobilidade reduzida, idosos e até carrinhos de bebês.
Segundo o Censo 2010 do IBGE, apenas 4,7% de todo o calçamento do país contava com rampas de acessibilidade. Na cidade de São Paulo, a maior do país, o índice era de 9,2%, sexta posição entre as cidades com mais de 1 milhão de habitantes.
De lá para cá, houve avanço, mas a carência do equipamento permanece em larga escala, o que motivou a ONG Movimento Superação, uma das mais representativas da pessoa com deficiência no país, a deflagrar o projeto Sem Rampa, Calçada é Muro, idealizado pela agência Z+.
“Hoje, sou obrigado andar pela rua, pois pela calçada é impossível. Se preciso subir ou descer em uma calçada, dependo da ajuda de terceiros, reforçando dessa forma o estereótipo assistencialista e não permitindo que eu tenha independência em algo tão básico para o exercício da minha cidadania que é me deslocar pela cidade”, diz Willian Coelho, o Billy Saga, rapper e líder do Superação.
Em São Paulo, até agora, 11 locais receberam desenhos de artistas como Chivitz, Minhau, Negritoo, Tito Ferrara, Mazola Marcnou e Apolo Torres. Os grafites estão em ruas como a Heitor Penteado, no Sumaré (zona oeste), Donatários, na Mooca (zona leste) e Pascal, Campo Belo (zona sul).
Segundo Billy, “o poder público deveria tratar dessa demanda, adequando gradualmente as calçadas, mas isso não acontece. O problema segue e viemos novamente chamar atenção à questão”.
A Prefeitura de São Paulo informou que “o prefeito Bruno Covas [PSDB] ampliou a importância estratégica das calçadas, com previsão de R$ 400 milhões de investimentos, que resultarão em 1,5 milhão de m² de calçadas requalificadas até o final de 2020”.
Ainda segundo a administração municipal, “foram selecionadas calçadas com grande fluxo de pedestres, bem como aquelas que receberam reclamações via 156, cujos reparos impactarão positivamente a população em todas as regiões da cidade, inclusive estabelecendo padrões de qualidade e acessibilidade para gestões futuras”.
Em 2017, foram revitalizados 47.197 m² de calçadas, em 2018, foram 37.674 m² e, em 2019, serão cerca de 750.000 m², de acordo com a gestão Covas. O trabalho implica também a padronização e feitura de rampas.
Alexandre Lage, diretor de arte da agência Z+, que idealizou a campanha sem custos, avalia que a conscientização precisa ser constante. “Quando se encontra uma maneira diferente e engajadora de abordar o assunto, ele vem à tona e pode causar a resposta da sociedade e, consequentemente, uma transformação. Esse realmente é um problema muito antigo, mas a maneira de mostrá-lo é nova”, diz.
Mais três capitais devem começar a receber grafites nos meios-fios em breve: Salvador, Fortaleza e Campo Grande.
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