Publicado às 11h15
Folha de São Paulo
Bilionário e ainda incompleto anel viário no entorno da cidade de São Paulo, o Rodoanel Mário Covas se tornou o trecho de maior incidência de ataques a motoristas nas rodovias paulistas.
São ações em que os criminosos atiram pedras contra o para-brisa dos veículos ou colocam grandes blocos na pista para obrigar o condutor a parar no acostamento e, assim, aproveitam a oportunidade para assaltá-lo.
São dezenas de casos que fazem do Rodoanel uma espécie de Faixa de Gaza desse tipo de crime, em especial nos trechos que passam pelos municípios de Carapicuíba e Osasco (oeste) e São Bernardo e Santo André (sul). Ambos têm favelas em seus entornos.
Roubos no Rodoanel
Dados da PM revelam que, de janeiro de 2017 a março deste ano, foram registrados 34 ataques na via —o equivalente a 31% de todos os 111 roubos conhecidos pela polícia de São Paulo em 12 rodovias estaduais.
Para se ter uma ideia da dimensão desses números, a quantidade de roubos nos 123 km do Rodoanel é o dobro da verificada nos 173 km da rodovia Bandeirantes (17 casos).
A grave situação do Rodoanel levou o governo paulista a alterar, em outubro passado, o sistema de policiamento na rodovia. Na ocasião, criou uma companhia da Polícia Militar, com cerca de 240 homens, destinada exclusivamente a essa estrada.
Antes, o policiamento da pista era dividido entre três unidades, conforme a região do trecho. Até agora, porém, a mudança teve pouco efeito.
Policiamento
Os dados obtidos pela reportagem mostram que, até 18 de abril, o policiamento rodoviário havia registrado 28 ocorrências de ataques a pedradas em oito rodovias paulistas e, desse total, 15 delas tinham como endereço o Rodoanel. Só neste ano, mais da metade dos crimes (53%) ocorreram nessa via da Grande São Paulo.
Segundo policiais e especialistas, um dos gargalos do Rodoanel é o desvirtuamento da ideia original de ser uma via expressa sem ligação com a área urbana. Ocorre que, ao longo da rodovia, em especial nos trechos oeste e sul, há uma série de novas comunidades com fácil acesso à via. Muitas delas são moradias precárias erguidas em áreas invadidas.
“Ele [Rodoanel] passa em trechos onde tem as comunidades lindeiras. Claro, há cidadãos de bem, mas o crime também está ali e se aproveita de trechos do Rodoanel que são mais escuros”, disse o capitão Cláudio César Capelari, porta-voz da Polícia Militar Rodoviária de São Paulo.
Crime
Uma das consequências desse desvirtuamento é a implantação de passarelas. São desses locais que criminosos costumam atirar pedras, embora todas tenham telas de metal.
Foi de uma delas, na altura do km 23 do trecho oeste, que criminosos atiraram uma pedra contra o veículo dirigido pelo hoteleiro Leandro Ciasca Balazshazi, 35, em janeiro.
A pedra atingiu seu rosto, matando-o na hora. O veículo, um Fiat Pálio, capotou várias vezes e foi encontrado por policiais militares minutos depois —os agentes foram acionados por pessoas que passavam pela região. No local, cinco meses depois, só há marcas de frenagem.
Procurada, a Polícia Civil de São Paulo não quis falar sobre assunto. Em resposta de quatro linhas, disse que identificou três suspeitos pela morte de Leandro, um maior e dois menores. Disse ter pedido a prisão temporária do autor e a apreensão dos adolescentes, mas que todas foram negadas pela Justiça.
Falta fiscalização
Para o consultor em engenharia Luiz Célio Bottura, ex-presidente da Dersa (empresa do governo do estado responsável por obras viárias), o ideal seria impedir a instalação de habitações ao longo da via, bem como fazer a retirada daquelas existentes. Agora, porém, não há saída, a não ser trabalhar na fiscalização.
“Falta a presença de fiscalização, da [polícia] Rodoviária e da concessionária. Se tiver carro da concessionária perto, ajuda, para ter movimentação”, afirma Bottura.
O porta-voz da Rodoviária diz que há um intenso trabalho de fiscalização com operações nos pontos de maior incidência do crime, incluindo a permanência de patrulhas 24 horas nesses pontos.
“A gente reforça o policial naquele local. Aí, dá certo ou o criminoso migra para outro local e a gente vai como gato e rato”, disse o capitão Capelari. “[Estamos colocando] Muita polícia, muita viatura, para inibir essa conduta”, disse.
Recomendações
A Polícia Rodoviária recomenda aos motoristas de carros atingidos por pedradas que não parem o veículo, se possível. “Se você passou em cima de algo num local ermo e se o veículo tem condições de prosseguir, mesmo que em uma velocidade reduzida, não pare. Tente prosseguir até uma base [da polícia].”
A polícia pede também para que os cidadãos façam boletins de ocorrência dos ataques. “O registro é importante para identificar o local e mobilizar o policiamento.”
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