Publicado às 14h05
Folha de SP
O conselho municipal de preservação decidiu nesta segunda-feira (30) que o complexo do Anhembi, na zona norte de São Paulo, não deve ser tombado. Com isso, qualquer intervenção poderá ser feita no local sem consulta prévia, inclusive a demolição.
A decisão dos membros do Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico (Conpresp) foi recebida com alívio pela gestão João Doria (PSDB), que deseja privatizar o local. Com o tombamento, as intervenções poderiam ser limitadas, gerando possivelmente queda do interesse das empresas.
O Anhembi tem cerca de 400 mil metros quadrados, que incluem o pavilhão de exposições, o Palácio de Convenções, a sede da SPTuris (empresa de turismo e eventos da cidade), um jardim projetado pelo paisagista Roberto Burle Marx, a área do estacionamento e o sambódromo.
Os sete conselheiros presentes decidiram por unanimidade que o Anhembi não deveria ser tombado.
“A cidade ganha com essa decisão. Ajuda no processo de desestatização da prefeitura e pode trazer mais recursos para áreas como Saúde e Educação. O Anhembi vale mais assim [sem o tombamento]”, diz Wilson Poit, secretário de Parcerias e Desestatização.
Empresas interessadas que têm dialogado com a prefeitura já manifestaram intenção de demolir boa parte das estruturas do local.
“Acredito que sim [que a empresa vencedora demolirá as construções]. São Paulo tem lugares para feiras, mas falta um grande centro de exposições. Ainda estamos perdendo para Cingapura, Miami. Poderemos ter algo assim no Anhembi, um espaço que fica ao lado do recém-anunciado parque Campo de Marte. Ou seja, um lugar muito valorizado”, conclui.
Presidente do Conpresp, Cyro Laurenza afirma ter apreço pelo “pudim”, nome carinhoso dado ao auditório Celso Furtado, que pode ser derrubado. Mesmo assim ele acredita que a decisão foi “a melhor para a cidade.”
“Uma coisa é o ‘pudim’. Outra coisa é ele dentro de um terreno que tem outra possibilidade de ser alguma coisa. Não posso deixar um auditório no meio de um baita terreno. Não teria função alguma. Dos estudos que existem e dos que já fiz, a zona norte está muito carente. Só tem o Center Norte. Quem sabe alguma coisa mais moderna, diferente, pode acontecer lá agora? Precisamos começar a construir coisas ali”, disse.
Em outubro de 2016, em artigo publicado na Folha, Doria disse esperar R$ 7 bilhões das vendas do Anhembi e do autódromo de Interlagos.
O programa de privatizações é peça central da agenda de Doria, que trava disputa interna no PSDB com o governador Geraldo Alckmin pela escolha do candidato do partido nas eleições à Presidência no ano que vem.
Para ser candidato em 2018, o prefeito terá de deixar o cargo até o início de abril.
O Conpresp é composto por nove titulares, cada um representando uma entidade específica, como a Ordem dos Advogados do Brasil e a Secretaria de Cultura.
No projeto de lei aprovado pela Câmara Municipal em primeira votação está estabelecido que 75 dias ao ano da agenda do Anhembi terão que ser reservados ao Carnaval e a eventos religiosos.
A segunda votação deve acontecer nas próximas semanas. Até o momento, os vereadores já deram aval para a concessão do estádio do Pacaembu, do Mercadão, do sistema de bilhetagem, dos terminais de ônibus e o sistema de guincho e pátios de carros.
A prefeitura ainda precisa contratar instituição financeira para avaliar os ativos da SPTuris antes de lançar o edital para a privatização.
Em setembro, o Tribunal de Contas do Município suspendeu edital de contratação dessa instituição enxergar no processo um possível conflito de interesses: um banco que eventualmente faça a avaliação poderia aparecer no futuro como comprador do Anhembi.
Área total do complexo: 400 mil m², divididos em sambódromo, pavilhão de exposições e palácio das convenções
– 3,5 milhões de pessoas, aproximadamente, visitam o local anualmente
– 150 eventos, em média, são realizados, como feiras de negócios, desfiles de Carnaval e shows
– O sambódromo não faz parte da proposta
– Palácio das Convenções: 37 mil m² (quatro auditórios, cinco halls e quatro salas)
– Pavilhão de exposições: 74,5 mil m²
– Espaços como o estacionamento e um jardim (de Roberto Burle Marx) também fazem parte do tombamento
– Custo por ano: R$ 67 milhões (segundo a prefeitura)
– Em que fase está no processo de privatização: Câmara aprovou a alienação em 1ª votação; a 2ª deve acontecer ainda em novembro
– Tombamento tramita no âmbito municipal
Adicione Comentário