Publicado em 10/02/2021 às 10h30
Por Lara Deus (Agência Mural)
Todo mês, Miguel Bernardo, 9, recebe uma mesada de R$ 10. Ao invés de gastar de uma vez, o menino de Pirituba economiza para comprar créditos de seu videogame. O bom exemplo não é uma realidade entre todas as crianças, já que muitas não aprenderam a melhor maneira de lidar com seu dinheiro.
Pensando nisso, a psicóloga Sarith Anischa, 34, criou o Educação Crianceira, canal no TikTok feito para dar dicas de finanças a quem está começando a entender o valor do dinheiro. Sua iniciativa estreou em setembro e já conta com 14 vídeos curtos, recebendo alguns comentários dos pequenos interessados no assunto.
“A maioria das crianças que eu conheço não tem nenhum tipo de disciplina que consiga falar sobre isso, e muitas vezes não tem pais que toquem no assunto”, justifica Sarith, que também é moradora de Pirituba e dá aulas de empreendedorismo em um colégio da região.
Neste contato com as crianças, ela percebeu que a falta de diálogo sobre a realidade financeira dos pais incentiva comportamentos infantis que atrapalham a saúde financeira da família. Um exemplo disso são as “birras” ao não terem o desejo atendido quando vão a uma loja.
No caso de Miguel Bernardo, quando os pais não aceitam atender a um pedido seu, ele sabe que é por falta de dinheiro. “Fico de boa, não me importo, não. Não dá, não dá”, exemplifica o menino.
FALAR SOBRE DINHEIRO
Em seu canal, Sarith tenta tratar conceitos de finanças que seriam considerados “para adultos” de maneira lúdica, dando exemplos aplicáveis às famílias das periferias.
Ao contar qual o valor de um salário mínimo no Brasil, conclui que isso equivale a R$ 34 por dia. “Sempre devolvo para eles: o que será que a gente consegue comprar com R$ 34? Um lanche do McDonald’s? Então seu pai vai trabalhar das oito da manhã às cinco da tarde para conseguir pagar um lanche?”, indaga ela.
A atendente de segurança Juliana de Llano, 36, é moradora de Pirituba, tem dois filhos e afirma que a educação financeira para eles é dada a partir de exemplos. Com a pandemia do novo coronavírus e as crianças sem ir à escola, a mãe solo não pode fazer mais tantas horas extras, o que diminuiu a renda da família.
“Tive que mostrar para meus filhos que a felicidade não está associada ao consumismo desenfreado, e sim aos objetivos que quero atingir neste momento. Eles acompanham diariamente uma mãe que acorda às 3h50 da manhã e sai para trabalhar ainda com estrelas no céu”, conta Juliana.
Por isso, seus filhos Eduardo, 13, e Katarina, 6, têm consciência de quanto é difícil conseguir o dinheiro que têm, e são envolvidos nos gastos e decisões da casa. Ela não pode dar mesada ao mais velho, e acaba deixando o menino com o que sobra das compras do mercado, mas garante que sempre ouve a pergunta: “Mãe, você vai precisar do troco?”
Segundo Sarith, esta conduta é valiosa para as famílias, pois assim os filhos saberão que não podem fazer pedidos de presentes a todo momento.
Além das aulas na escola, ela também é professora de basquete em Pirituba e tem muito contato com as crianças da região. Assim, percebeu que os pais muitas vezes não são verdadeiros com os filhos, tentando mostrar um status financeiro que não é real.
“Mostrando para a criança a realidade, mesmo que seja cruel, ela vai entender”, defende a psicóloga, que completa: “Muitas vezes, os pais não querem fazer isso porque sentem vergonha”.
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