Publicado às 11h10
A encenadora Daniela Thomas e a atriz Bete Coelho convivem e trabalham juntas há 33 anos. Neste novo projeto para encenar o clássico “Mãe Coragem e Seus Filhos”, de Bertolt Brecht (1898-1956), com tradução direta do alemão assinada por Marcos Renaux, toda essa trajetória em comum se torna uma grande aliada. O resultado de mais este encontro criativo pode ser conferido no espetáculo Mãe Coragem, que estreia no dia 11 de junho no ginásio do Sesc Pompeia, onde segue em cartaz até 21 de julho.
Escrita em 1941, a peça se passa durante doze anos dentro da Guerra dos Trinta Anos (1618-1648), uma série de batalhas devastadoras na Europa central, sobretudo na Alemanha, que deixaram mais de oito milhões de mortos. Nesse contexto, o texto narra a trajetória de Anna Fierling, a dita Mãe Coragem, uma comerciante que acompanha as tropas com sua carroça, vendendo suprimentos para os soldados agonizantes. Ela comemora a chegada da guerra e lucra com seus horrores, mas não quer que nenhum de seus três filhos – Eilif, Queijinho e Kattrin – sejam convocados para a luta.
Quando Anna cuida dos seus negócios, negligencia seus deveres maternos e, quando se preocupa com os filhos, o comércio é deixado de lado. Mesmo assim, quer lucrar a todo custo. O resultado é que ela não consegue impedir que Eilif e Queijinho se tornem soldados e morram na guerra, nem que a filha muda, Kattrin, também vire vítima.
“Acho que a Mãe Coragem é uma espécie de Hamlet das mulheres, ou melhor, seu oposto complementar. Em Hamlet você tem que ser um ator maduro e jovem, e em Mãe Coragem você tem que ser uma atriz madura e velha. Então, geralmente você tem disposição para fazer quando é jovem, mas tem que esperar ficar mais velha. E Hamlet você quer fazer e não tem maturidade quando você é jovem, né? Mas eu sempre achei muito difícil, li várias vezes, mantive esse desejo remoto, e sempre guardei na estante, como uma perolazinha”, diz a idealizadora da montagem Bete Coelho.
A mensagem que Brecht quer passar com a peça é o entendimento de que aquele que quer lucrar mais, vai ter que pagar mais. A fome por dinheiro é ao mesmo tempo a ruína pessoal de Coragem e em grande parte, se não totalmente responsável por ela perder todos os seus filhos. Sua falta de discernimento deve ser um aviso de que sempre haverá guerras enquanto o homem não aprender com os erros do passado e continuar a fazer do dinheiro o motor de suas ações.
A encenação de Daniela Thomas destaca o caráter dialético no texto de Brecht. “Quando recebi o convite de Bete para dirigir o Mãe Coragem, logo imaginei uma trupe de atores chafurdando na lama, num espetáculo que não se dirigisse ao público, mas que fosse testemunhado por ele. Ou ainda: que além de assistir os atores, o público, organizado em torno da arena, assistisse o clássico de Bertolt Brecht sendo visto por uma outra plateia, em mais um testemunho da alienação pretendida pelo diretor/filósofo. Enquanto discutíamos sobre a montagem, nesses anos, assombraram-nos os rompimentos das barragens de Mariana e Brumadinho: a lama inerte, implacável, que assassinou famílias, florestas e rios. Assombrou-nos também a luta diária dos pobres, pardos e negros do Brasil frente ao genocídio de seus jovens: nossa guerra particular. Assombraram-nos ainda os slogans intolerantes e cada vez mais vocais dos que falam em nome de Deus. Mãe Coragem é uma peça escrita nos anos de 1930 e 1940 do século XX, no norte da Europa, sobre a guerra religiosa que os assolou nos anos 1600 e ressoa atual e pertinente nos nossos tristes trópicos”, revela a diretora.
Sinopse
O clássico de Bertolt Brecht se passa durante doze anos dentro da Guerra dos Trinta Anos, e conta a história de uma vendedora ambulante que acompanha exércitos com uma carroça, vendendo suprimentos para os sobreviventes. Ela celebra a guerra e lucra com seus horrores, ignorando a ameaça que seus três filhos – Eilif, Queijinho e Kattrin – sofrem.
Serviço
Mãe Coragem
Onde: SESC Pompeia – Rua Clélia, 93, Água Branca
Quando: de 11 de junho a 21 de julho de 2019. De terça a sábado, às 20h30, e aos domingos, às 18h30
Quanto: R$ 40 (inteira); R$ 20 (aposentado, pessoa com mais de 60 anos, pessoa com deficiência, estudante e servidor da escola pública com comprovante) e R$ 12 (credencial plena do Sesc – trabalhador do comércio de bens, serviços e turismo credenciado no Sesc e dependentes).Venda de ingressos no Portal Sesc SP (www.sescsp.org.br) e unidades. Limite de 4 ingressos por pessoa.
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